domingo, 21 de abril de 2013

[Cinema] Crítica: O Escafandro e a Borboleta - 2007

O Escafandro e a Borboleta é um filme francês, uma adaptação do livro autobiográfico de um jornalista da revista de moda Elle, Jean-Dominique Bauby, que teve uma vida bem sucedida, teve três filhos com sua ex mulher e namora uma linda garota. Um homem livre.

A primeira cena do filme é o despertar de Jean. Após sofrer um AVC (acidente vascular cerebral), ele acorda em hospital sem entender a situação. A visão do público é limitada, assim como a de Jean. Tudo o que podemos ver, é o que o personagem vê. A câmera por grande parte do filme é a perspectiva de Jean.


Seu corpo ficou paralisado devido à síndrome Locked-in, também conhecida como Síndrome do encarceramento. As únicas partes em que podem se movimentar, são seus olhos. Ou melhor, apenas o olho esquerdo, já que o direito foi costurado para não correr risco de infeccionar. Ele está preso em seu próprio corpo e terá que ser forte o suficiente para aprender a viver desta nova forma.

Nossa câmera e visão é seu olho esquerdo. O que restou para Jean é a sua memória e sua imaginação.

Conforme o tempo passa, Jean aprende uma nova forma de se comunicar com sua fonoaudióloga, recorrendo às letras utilizadas com mais frequência no alfabeto. Para escolher a letra e para responder as perguntas de sua família e médicos: uma piscada para sim e duas para não.

Demora para termos a primeira visão de seu rosto. Tanto que quando vemos, vemos junto com Jean. Claro, nossa reação é a mesma.

O personagem que como qualquer outra pessoa, sente por não poder abraçar seus filhos, sente pela situação de ver médicas lindas em sua frente e não demonstrar reações, sente pela dificuldade de se comunicar e ainda assim conseguir ter um mórbido senso de humor. Ele cria para si mesmo uma visão de que está preso em um escafandro debaixo d'água e não consegue se libertar.

Preso e seu próprio corpo e com sua mente funcionando livremente, Jean, com ajuda de uma assistente, decide ditar uma história para enfim escrever seu livro. Sim, um livro. Palavra por palavra, letra por letra. Haja paciência para a assistente.


Para um homem que trabalhava com moda, vivendo com a ditadura do corpo perfeito, restou a sua imaginação. Já dizem que com a imaginação se vai longe. Para Jean, era essencial imaginar para viver dia após dia. O personagem procura fantasiar e perguntar a si mesmo "onde vou jantar hoje?", "Com quem quero sair hoje?".

Isso era fácil, pois sua imaginação e suas lembranças podiam o levar à qualquer lugar mesmo sem poder se movimentar, como uma borboleta.

É possível encontrar em sua personalidade, a vontade de procurar o mínimo de progresso, de manter o mínimo de esperança, mesmo com a ajuda - fictícia em sua percepção - das religiões.

Trata-se de uma lição de vida inexplicável, uma força de vontade assustadora. Mais do que nunca, o diretor transmite que a comunicação é a coisa mais importante que temos na vida. A história ajuda a entender que a timidez pode ser a maior burrice de um ser humano.


Fica a lição de que muitas vezes nos prendemos por vontade própria em escafandros. É o chamado orgulho. Se somos livres como uma borboleta e não precisamos de uma forma primitiva para nos comunicarmos, porque ainda somos tão presos? Criamos um limite para nós mesmos e damos um passo para trás quado chegamos nele.

O filme serve como uma fonte de inspiração para que através da comunicação e da convivência em sociedade, possamos dar esse passo adiante e criar situações que nunca chegaríamos nem a imaginar atrás da nossa linha, presos em nossos escafandros, no nosso orgulho e na preservação excessiva.

Nota (de zero a cinco): 4,5

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