Quando assisti o trailer pela primeira vez, assistindo Homem de Ferro 3, no ato já sabia que seria um filme diferente. Como o diretor vai sustentar um filme inteiro com uma personagem à deriva, como ele vai lidar com a gravidade e o emocional da personagem? Em meio das muitas perguntas, ficava ansioso pela beleza da Terra vista do espaço e com receio de ver algo como 127 Horas, quando o filme é basicamente um monólogo com flashes do passado e loucuras da cabeça do ator principal.
Longe de dizer que 127 Horas é ruim, mas o que menos gostaria de assistir em um filme que se passa no espaço seriam flashbacks dos personagens na Terra. Esse era o meu medo.
No começo, o papel da astronauta Ryan Stone (interpretada por Sandra Bullock) é consertar o telescópio Hubble com ajuda de Matt Kowalsky (George Clooney), um experiente astronauta que está em seus últimos momentos da sua caminhada espacial.
Rolando um country de leve, com o cenário da Terra no fundo, a imagem é tão bela que demorei um pouco para absorver. Não sei se observo a expressão dos atores dentro do traje espacial, observo a gravidade agindo sob os objetos pendurados ou se fico olhando a beleza da Terra. É até difícil entender que chegamos nesse patamar da computação gráfica.
A história inteira se passa no espaço, sem pesar tanto no passado dos personagens e a história se desenrola rápido. Nada de enrolação. Os russos (sempre eles) mandaram um míssil em um satélite espião e os destroços atingiram outros satélites que atingiram outros, gerando uma reação em cadeia. Quando são avisados que os destroços se aproximam do Hubble, não dá tempo de mais nada.
Sabe aquela história de que o filme deixa as pessoas sem respirar. É a mais pura verdade. São minutos de catástrofes intermináveis e com detalhes impressionantes. Tudo é pensado e cada explosão causa uma outra colisão. É inacreditável a beleza da cena.
No decorrer da história, na deriva no espaço, a atuação de Bullock mostra perfeitamente o completo desespero que qualquer pessoa ficaria nesta situação. Pelo menos uma cinco vezes, o diretor nos coloca na visão de Ryan e o desespero aumenta ainda mais.
São tantas coisas acontecendo que a respiração acaba se tornando uma inimiga graças ao oxigênio limitado. Aos poucos a personagem vai se controlando e tudo vai seguindo o seu rumo. Ali, naquela situação de risco, Ryan precisa lutar contra o próprio medo e aprender a encarar tudo sozinha.
A qualidade do filme também se deve à excelente trilha sonora. A música nos momentos difíceis ajuda a deixar o clima muito mais tenso. O filme troca constantemente de altura extrema a extremo silêncio, mas com leveza na hora da calmaria.
A parte "calma" do filme possui um pôr-do-sol e uma bela interação entre Matt e Ryan, um dos poucos diálogos dos personagens. Os detalhes nas cenas de construção de história ficam tão evidentes quanto nos acidentes. Para exemplificar isso, em uma cena, um simples alicate batendo na perna da protagonista de fundo bate em um saco plástico que cai em seguida. Não precisava colocar aquele alicate na cena, mas a riqueza nos detalhes pode ser vista em momentos como este.
Outro momento é o das lágrimas da Ryan que voam na gravidade zero. Até aí tudo bem, mas especialmente uma voa em direção à tela, bate na câmera e some. São coisas singelas, mas repito, de beleza e detalhes impressionantes. Sem contar o 3D muito bem utilizado pelo diretor.
James Cameron disse em entrevista à Variety: "É a melhor fotografia espacial já feita, o melhor filme espacial já feito, e é o filme que eu estava ansioso para ver a muito, muito tempo."
Concordo completamente. Todos os diretores de futuros filmes de ficção científica deveriam assistir Gravidade até cansar. O que Avatar foi um novo ponto de partida para o cinema, acredito que com Gravidade, chegamos em um novo ponto. Onde história, computação gráfica e fotografia se unem em perfeição de um belo filme.
Nota (de zero a cinco): 5
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Alerta de Spoilers!
Preciso comentar uma cena, então, se liga com os spoilers e só leia estes próximos parágrafos se você já assistiu ao filme!
O que foi a cena dela tirando o traje aos poucos e "relaxando" após tudo que aconteceu? Pra mim, a Sandra Bullock ganhou o Oscar nesta cena e na cena que conversa com o chinês que canta uma canção de ninar para o bebê. A primeira sem falas, apenas a atriz ficando quase em posição fetal com os cabos demonstrando um cordão umbilical. Foi o verdadeiro renascimento da doutora.
Que ideia genial do Cuarón. E a segunda cena, o alívio da astronauta em ouvir alguém finalmente falando qualquer coisa, mesmo que não consiga entender... só em ouvir algo que ela conhece, já é o suficiente para acalmar e respirar. A visita de Matt só mostrou que o renascimento é um elemento que Cuarón queria muito transparecer.