sábado, 6 de setembro de 2014

[Crônica] A imaginação de Sofia

Morando em uma favela do Rio de Janeiro, tudo o que uma menina de oito anos podia fazer, enquanto a polícia e os traficantes trocavam tiros, era ficar paralisada de medo.

Sem conseguir sair de casa, a pequena Sofia ficava aflita com os barulhos das armas, gritos e tensão. Quando Marina, a mãe da garota, ouvia os tiros, sua primeira reação era se esconder com a filha.

Enquanto os tiros se intensificavam no morro, Sofia e Marina sentavam dentro do armário, em um outro mundo. Neste, Marina era a rainha do castelo e o barulho dos tiros eram fogos e cornetas, que avisam o povo que a princesa Sofia iria se casar. O príncipe era o boneco Ken, um dos brinquedos preferidos da menina.

A coroa era um cabide retorcido feito por Marina. Segundo a mãe da garota, a viagem para o reino encantado só era possível com muita concentração e se a Sofia fechasse bem os olhos. Neste mundo, a fantasia tornava-se real e a realidade virava ficção.

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Dizem que as crianças precisam enfrentar a vida com bravura desde pequenos. Mas uma dose de imaginação é saudável para qualquer idade. Fazendo bastante silêncio de olhos bem fechados ou no meio do metrô lotado, a imaginação pode transformar a rotina em risos, o chefe em um Muppet ou um campo de batalha em um reino encantado.

Por mais que várias pessoas possam fazer o seu papel, a imaginação permite a criação de um mundo só seu.

E isso é bem real.

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