domingo, 25 de janeiro de 2015

[Crônica] A vida da Cinza

Essa história aconteceu no estojo de lápis de cor da Alice, de 5 anos. A história da senhorita Cinza. Filha do senhor Preto com a dona Branco, logo na pré-escola dos lápis, a Cinza já se sentiu excluida.

No parquinho, não era aceita na brincadeira com a Amarelo e com a Vermelho. O Azul então, por quem tinha uma queda, nem dava bola. Todos diziam que ela não era nem uma coisa, nem outra. Pior, seu apelido era "Neutra" ou "Fúnebre".

Cansada das brincadeiras de primário (literalmente), pensou em uma mudança na sua vida: "Mãe, quero ser Rosa!". A dona Branco ficou surpresa: "Filha, você é linda da forma que você é!". Com a insistência da filha, revelou um segredo de família: "Cinza, como sou Branco, rainha de todas as cores, você pode virar a cor que você quiser. Mas tem uma coisa: você só pode escolher uma vez por dia. É só se concentrar e pensar na cor".

A pequena ficou radiante. Fechou os olhos e pensou: "Rosa, Rosa, Rosa!". Quando abriu os olhos, viu seu corpo da cor que sempre quis. Não via a hora de aparecer Rosa com glitter no estojo, só pra aquelas exibidas Amarelo e Vermelho morrerem de inveja.

No dia seguinte, na pré-escola, Cinza chegou linda de Rosa. O Azul até passou no apontador para ficar mais elegante para a senhorita Cinza. A Amarelo e a Vermelho logo convidaram a novata para brincar.

A brincadeira era contar quem é o lápis mais usado pela Alice no dia da aula de artes. Na pré-escola, a atividade era desenhar como foi seu feriado. Alice ficou em casa com os pais, porque ameaçou chover e ninguém foi para o parquinho. Seu desenho portanto precisava da Cinza, para as núvens escuras e cheias de gotinhas.

Alice abriu o estojo e começou a procurar a Cinza. Virou os lápis de novo e de novo. Agora de Rosa, Cinza tentava ficar no campo de visão, mas ninguém em sã consciência desenharia uma núvem de rosa. Para ajudar a filha, o senhor Preto auxiliou Alice a fazer uma nuvem escura, bem de levinho.

No final do desenho, estojo fechado e Cinza entrou em pânico. "Meu Deus, como ela não me viu? Eu estava bem na frente dela!". A Amarelo respondeu: "Claro, besta. Agora você está lindíssima de Rosa. Nuvem cor de rosa só se for de algodão doce!".

Cinza percebeu o erro que cometeu. Não precisava ficar bonita para os outros. Precisava ficar pronta para dar o seu melhor quando tivesse chance! Fez uma escolha definitiva na sua vida. Sempre que acordasse, antes de abrir os olhos, desejava: "Eu quero ser cinza, quero ser eu mesma!". No final, Cinza se deu bem. Alice desenhou inúmeras núvens, ratinhos e carros até o final das aulas de artes.

Isso porque ela nem imaginava que quando mais velha, os "50 Tons" mudariam a sua vida.

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