Lembrando que a crítica contém spoilers, então cuidado. Assiste o filme e depois volta aqui!
Quando soube que seria contada a história de Stephen Hawking no cinema, admito que fiquei muito empolgado. Não é comum ver um cientista como protagonista, principalmente em um drama com uma história de amor.
Inspirado no livro "Travelling to Infinity: My Life with Stephen", de Jane Hawking, a trama do diretor James Marsh começa com Hawking (Eddie Redmayne, excepcional) na Universidade de Cambridge, já se destacando como um promissor cosmólogo. De uma forma natural e convincente, conhece Jane Wilde (Felicity Jones, indicada ao Oscar de melhor atriz), uma estudante de artes e literatura.
Desde o início da trama, é possível perceber a evolução da doença de Stephen. Um leve movimento involuntário, que derruba um copo de café, mostra apenas o começo. No hospital após uma queda, o médico avisa que o cientista terá apenas mais dois anos de vida e que aos poucos não vai mais conseguir se movimentar, engolir ou falar. A locomoção fica lenta e logo precisa de muletas.
Sentado na mesa de jantar com amigos, Hawking percebe que não consegue mais se alimentar sozinho e observa os outros sentados na mesa. Um simples movimento de levantar uma colher torna-se um grande desafio.
Saindo do jantar, ele tenta subir a escada para o seu quarto e não consegue. Ao mesmo tempo, observa Jane. A partir deste momento, Stephen percebe que nunca mais será o mesmo.
Mesmo com a doença, Stephen insiste em continuar trabalhando. Sua teoria de buracos negros e o tempo é aplaudida por seus professores e conquista o mundo. Tudo isso preso a um corpo que não corresponde às suas necessidades.
É comum a Academia dar o Oscar a atores que superam problemas em um papel. Apenas nos últimos anos, Colin Firth venceu como o gago rei George VI, em "O Discurso do Rei", e Matthew McConaughey, como um eletricista diagnosticado com AIDS, em "Clube de Compras Dallas".
A cena é incrivelmente bem feita, com uma leveza única. O maior desejo de um físico que estuda a origem do Universo é apenas ficar de pé novamente.
Além das excelentes atuações, destaque para a belíssima trilha sonora de Jóhann Jóhannsson e a fotografia simplesmente linda, com cores intensas.
Mesmo com o livro lançado, com sua popularidade no mundo todo e o respeito de diversos cientistas, seu maior orgulho é o relacionamento com Jane e seus três filhos.
"A Teoria de Tudo" mostrou absolutamente tudo o que eu esperava. Atuações espetaculares, uma fotografia linda e a história de superação de um gênio da física.
Ao escolher contar uma história de amor, o diretor acertou em cheio. O filme é feito para fugir do rótulo de apenas mais um romance, desenvolvendo uma história de um casal sem ser piegas. O roteiro conseguiu balancear bem a doença, o relacionamento e a ciência.
Criar um filme com base em uma biografia poderia ser monótono nas mãos erradas. O diretor poderia seguir por outros caminhos e criar um personagem metido e arrogante. Poderia detalhar o caminho para chegar na teoria dos buracos negros e como o mesmo desacreditou a própria criação. Podia entrar no tabu da religião contra ciência. Mas ainda bem que não foi o caso.
O diretor acertou em se contentar em contar a história de amor de um cientista. Espero que o filme aumente a curiosidade das pessoas em relação a ciência.
Nota (de zero a cinco): 5