terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

[Cinema] Crítica: Whiplash - Em Busca da Perfeição - 2014

Atenção! Whiplash, o vencedor de três categorias no Oscar, não é um musical. Você já pode se livrar do trauma de Mamma Mia e esquecer Glee. O diretor Damien Chazelle mostra como um filme sobre música pode contar uma história digna de um dos melhores filmes do ano. Até porque ser um músico não é só subir em um palco e ser aplaudido.

Lembrando que a crítica contém spoilers, então cuidado. Assiste o filme e depois volta aqui!

Andrew Neiman (Miles Teller, guarde este nome) é um aluno do primeiro ano do Conservatório Shaffer, a melhor universidade de música dos EUA. Neiman tem o sonho de se tornar o melhor baterista de jazz da sua geração.



O principal professor do local, Terence Fletcher (J. K. Simmons, em um dos melhores papéis da sua carreira), procura por músicos talentosos para a banda principal da universidade, a Studio Band. Baterista reserva da turma de estudantes, Andrew é chamado para um teste com a banda como suplente. 

Mesmo os músicos mais experientes tem medo de Fletcher. Quando ele entra no estúdio, todos olham para o chão, sem manter contato visual. Ao escutar um instrumento desafinado, imperceptível para um leigo, o professor faz o cara do trombone chorar e se retirar. Sinta o nível:


Antes de começar o ensaio, Fletcher dá um apoio ao novato: "Divirta-se, não fique preso aos números". Ao começar a tocar e cometer um erro, que até agora não encontrei, o professor pressiona Andrew. E mais. E mais. Aos berros. É muita pressão. 

Andrew decide praticar até ficar exausto. Mais do que isso, deixa sangue na bateria com as feridas causadas pelo esforço repetitivo com as baquetas.

Apesar do filme focar no professor e no aluno, ainda é pouco discutida a relação de Neiman com a família. Ele precisa explicar sobre o futuro incerto de alguém que está só começando no mundo da música. "Prefiro morrer bêbado e falido aos 34 anos tendo pessoas falando sobre mim na mesa, do que rico e sóbrio aos 90 e ninguém lembrar quem eu era", diz o jovem na mesa de jantar.

Em meio a tudo isso, ele convida Nicole (Melissa Renoist), funcionária de um cinema, para um encontro. Ela é uma típica jovem que ainda não sabe qual rumo seguir. Seu papel no filme é curto, mas coloca na cabeça de Andrew que nada, nem ninguém deve atrapalhar seu caminho. Para tentar ganhar, muita coisa fica perdida no caminho.


Destaque para as várias cenas entre Simmons e Miles. Em uma delas, enquanto um chuta partes da bateria para longe, em pleno contraste depois de chorar em nome de um competente músico que faleceu, o outro deixa sangue na bateria com uma expressão de raiva e dor, completamente esgotado.

A relação entre os dois anda entre a admiração, a raiva, a decepção e o orgulho. Andrew se torna tão intenso quanto Fletcher.

Se um só consegue viver com a perfeição na música, o outro se esforça o máximo possível para encontrar o reconhecimento. "Qualquer idiota balança os braços e mantém uma banda no ritmo. Eu estava lá para empurrar as pessoas para além do que se espera delas", comenta o professor.

Simmons mostra porque venceu o Oscar de melhor ator coadjuvante. Sua atuação é muito expressiva e impressionante. Ele consegue transparecer raiva e profundidade, mesmo sem o filme contar muito sobre sua historia. 

Quanto a Miles Teller (o novo Reed Richards, do reboot do Quarteto Fantástico), fica um futuro brilhante pela frente. Não tenho dúvidas que se escolher os papeis certos, um dia será indicado. 

A vontade de Fletcher de moldar uma lenda faz sentido até um certo ponto. 


Óbvio que humilhar alguém não é a melhor forma de ensinar, mas muita gente fica confortável vivendo na comodidade. São poucos que se esforçam para dar mais alguns passos. Uma lenda não desistiria tão fácil.

Whiplash poderia ser um filme clichê sobre a conquista de um sonho, mas escolheu um caminho alternativo, apostando na bateria e em uma base no jazz, um gênero que para grande parte da nova geração se tornou antiquado. 

  
O filme é excelente justamente por fugir do caminho mais fácil. Na busca de um objetivo você tem duas opções: procura uma pessoa para te dar um empurrão ou deixa sangue e suor no caminho. 

Nota (de zero a cinco): 5

2 comentários:

  1. Esse filme é simplesmente incrível... A forma que o filme foi feita é fascinante, pois tem cenas onde a adrenalina salta pelas veias e você se vê pulando do sofá e com os olhos grudados na televisão. Esse tipo de sensação eu nunca havia experimentado tão intensamente em um filme. Sem contar com o olhar que o Simmons mostrou na última cena, algo parecido com um "você chegou lá, parabéns!"

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    1. Amanda, o final desse filme é simplesmente sensacional, não tenho nem o que falar! A intensidade, como você citou bem, faz toda a diferença!

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