quinta-feira, 20 de junho de 2013

[Outros] A revolução e o início do Brasil 2.0

Precisava registrar o fato com as minhas palavras. Afinal, não é todo dia que temos uma revolução no seu país.

Patriotismo repentino

O brasileiro nunca foi o melhor exemplo de um indivíduo patriota. Ninguém tem uma bandeira hasteada no jardim da sua casa, assim como nos Estados Unidos. Ninguém pensava em mudar alguma coisa, pois nossas causas já eram consideradas perdidas.


O que aconteceu com o brasileiro que ele começou a sentir esse patriotismo da noite pro dia?

Não foi do nada. Esse era um sentimento que o brasileiro, nem nos sonhos mais longínquos pensou que teria.

Sim, é importante, todos queremos que a tarifa diminua. Mas, o brasileiro já está tão cansado e se acostumou com TANTA coisa errada que simplesmente se acomodou. Nada vai mudar mesmo, "Pior que tá não fica", né? Só em pensar que há pouco, o protesto da vez era votar no Tiririca...
A influência da internet

A internet, mais do que nunca, foi a base de apoio à causa. Os vídeos que os próprios manifestantes colocavam no Youtube mostravam quem realmente estava afim de briga. Eram os policiais. O governo após diversos vídeos comprovando a força excessiva policial prometeu observar melhor os homens de farda e garantiu que nos próximos atos não haverá bala de borracha.

O Facebook agiu como uma ferramenta de comunicação fantástica, no qual os organizadores davam dicas aos manifestantes e mostravam onde o protesto seguiria e até onde ele iria chegar.

Sem dúvidas, mesmo após todas as confirmações no Facebook, ninguém acreditava que o brasileiro entraria de cabeça nesse jogo.


Agora está na moda dizer que somos a geração Coca-Cola. É duro admitir, mas quem iniciou essa revolução foi a geração dos memes.

O efeito dos R$0,20

A tarifa do ônibus foi só o estopim, a gota d'água, diretamente dos tempos de escola, foi o nosso Francisco Ferdinando. Os protestos foram a libertação do povo brasileiro. A libertação, mostrando que está cansado da corrupção, do hospital que tem uma atendimento ridículo, do transporte público que é uma piada e da educação que não recebe investimento.

Se tivéssemos um transporte público de qualidade, acredito que as pessoas não se engajariam tanto no preço em si. O problema é a forma que somos transportados como lixo e mesmo com os impostos, com o tempo e com novos políticos, tudo continuava do mesmo jeito. Menos a tarifa. Tem sentido aumentar o preço de algo que não funciona da forma correta? É até difícil imaginar o que o governo teria que fazer para tanta gente se acomodar no metrô e no ônibus.

Quem pega metrô sabe que a quantidade de pessoas por metro quadrado é dobrada em um metrô na capital paulista pela manhã e no horário do rush. Onde cabem três pessoas sempre haverá um imbecil que acredita que cabem quatro. Agora multiplique por milhares de pessoas que precisam chegar no seu destino na hora certa.

Nem adianta esperar o próximo trem. O próximo vai estar do mesmo jeito, quem sabe pior. Quando você olha no relógio você já está atrasado e virou mais uma vítima do metrô de SP. Algo nessa situação tem condição de ter o preço mais alto? Óbvio que não. Até que teve um movimento que decidiu dar o primeiro passo.

A Revolução do Movimento Passe Livre

Os primeiros atos do Movimento Passe Livre recebiam cada vez mais integrantes e maior cobertura da mídia. Por falar em mídia, no início, dava pouca importância ao ato, como se fosse mais uma causa simples, assim como a marcha da maconha ou a das vadias.


No terceiro ato, na terça-feira (11), cerca de 20 mil pessoas foram ao Teatro Municipal e seguiram rumo a Avenida Paulista.


Os policiais foram acusados de força excessiva e os manifestantes, chamados de vândalos. A Paulista virou uma zona, ônibus foram pichados, vidros de agencias bancárias foram quebrados e o caos foi instaurado.

Sempre tem um aproveitador

Sim, existem vândalos sim no meio da manifestação, mas isso é impossível filtrar. Não tem como revistar e conhecer as intenções de um protesto com milhares de pessoas. Não tem nem como culpar os organizadores.

O que precisamos entender, é que no meio de toda uma causa, existem policiais que estão apenas seguindo ordens. Nossa briga não é com os policiais e sim contra a repressão e a corrupção do governo. A polícia não pode assistir vândalos infiltrados em um lindo movimento depredando o patrimônio público.


A mídia caiu em cima dos manifestantes e Fernando Haddad e Geraldo Alckmin que deveriam ser as pessoas mais interessadas em saber em qual pé esse protesto chegaria estavam em um evento em Paris. A culpa foi inteira dos "vândalos".

A Batalha dos Vinagres

O quarto ato na quinta-feira, foi o mais violento. A tropa de choque não queria deixar os manifestantes invadirem a Avenida Paulista, já que no ato anterior ocorreram os problemas já citados. Mas desta vez, a mídia também foi afetada. Diversos jornalistas foram alvo das balas de borracha, bombas de gás lacrimogêneo atiradas pelos policiais e spray de pimenta.

Pessoas que estavam apenas tomando cerveja após a manifestação apanharam de cassetete. Pessoas foram presas para averiguação. Pessoas foram presas por portar... vinagre. Dai o simbólico título de "A Batalha dos Vinagres".


A manifestação em SP, seguiu pacífica. Agora Haddad e Alckmin não tinham mais o que falar, a quem culpar. Não pode mais colocar a culpa nos vândalos. Não tem que lidar com a polícia que teve uma atuação discreta, como deve acontecer em uma manifestação. A ideia deve ser o centro das atenções e não as pessoas envolvidas.

A segunda-feira que entrou para a história

Chegou o dia 17/06, um dia histórico para o Brasil. Não apenas São Paulo participou do movimento com 65 mil pessoas, como o Rio de Janeiro colocou 100 mil pessoas nas ruas, Brasília 5 mil, Belo Horizonte 10 mil, Porto Alegre 10 mil... Tudo isso em plena Copa das Confederações, cerca de 250 mil tomaram o país.

Catedral da Sé
No Rio de Janeiro, manifestantes invadiram a Assembleia Legislativa.

Em Brasília, simplesmente ocuparam o Congresso Nacional. No dia 17 de junho de 2013, os brasileiros foram para as ruas lutar por seus direitos. No dia 17 de junho de 2013, o POVO tomou o Congresso.

Foto histórica da tomada do Congresso

Seus netos vão estudar sobre esse dia na escola, dá para ter noção da importância deste dia?
Não existe maior prova de que o brasileiro quer melhorar o seu país. Levantou e quer mostrar que o Brasil não é lugar de aproveitadores.

Só não pode perder o foco

Mas, única coisa que não pode acontecer agora é desfocar o que nós queremos. Uma coisa de cada vez. Se conseguirmos o ônibus, depois tentamos algo sobre a saúde. Tudo porque algo que engloba tudo, não engloba nada.

A capa da Folha de S.Paulo do dia (18) diz: Milhares vão às ruas “contra tudo”. Não é contra tudo. Generalização ridícula da Folha. Sabe alguma coisa que tenho medo? É dessa manifestação do transporte público perder o foco e virar algo contra a corrupção, contra a roubalheira de novo. Essa história de se vestir de branco só leva a ideia de mudança de foco, a algo como a procura da paz.

Óbvio que a paz é algo que todos, sem exceção, querem. Não devemos perder o foco. Transporte, uma coisa de cada vez. Devemos prestar atenção a essa expansão da imprensa sobre o assunto.

Nosso hino nunca foi tão significativo como hoje. Sabe aquela história de patriotismo derrotista que o brasileiro tinha?

Pois é, isso acabou. A partir do dia 17 de junho de 2013, o brasileiro tem orgulho em ser brasileiro e sabe que deve e consegue lutar pelos seus direitos.

Revolução que dá resultado

E o resultado chegou. No dia 19/06, o prefeito Fernando Haddad e o governador Geraldo Alckmin anunciaram a redução da tarifa novamente para R$3,00.

Isso só aconteceu porque o povo foi para as ruas, correu atrás e venceu.

O gigante acordou e deu o primeiro passo. Temos muito o que fazer e já sabemos por onde seguir. Tem muita coisa errada ainda nesse Brasil. PEC 37, Estatuto do Nascituro, Renan Calheiros, Sarney, Feliciano e sua "Cura Gay", melhorias no transporte público (só abaixou o preço, continua uma porcaria)... ainda temos um longo caminho.

O começo do Brasil 2.0

Posso dizer que vivi uma revolução e conseguir registrar tal feito, isso é incrível.

Porém, como sei que esse é só o começo de um novo Brasil.

Já comprei o jornal do dia seguinte após o quinto grande ato. Aposto que os meus netos vão mostrar pros amigos e vão fazer o maior sucesso.