quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

[Cinema] Crítica: Star Wars: O Despertar da Força - 2015

Desde o primeiro dia de 2015, todos colocavam “Star Wars: O Despertar da Força” na lista dos filmes mais aguardados do ano. Quando J.J. Abrams assumiu a direção, após ressurgir a franquia Star Trek, o medo de ver um filme ruim começou a diminuir. A tensão de saber que o seu filme favorito vai voltar ao cinema com uma nova história deixa qualquer fã assíduo bem aflito.


As minhas dúvidas foram sanadas logo no primeiro trailer. Com os efeitos especiais usados apenas onde é preciso, já que Abrams decidiu filmar com o máximo de objetos reais possível, a trama de “Despertar da Força” ficou mais focada na apresentação de Finn e Rey, os novos protagonistas.

Rey (a excelente Daisy Ridley) é uma escavadora do planeta Jakku. Sua rotina é colher lixo e vender em troca de mixarias. Entre uma das andanças procurando por algo de valor, encontra BB-8, um droid de Poe Dameron (Oscar Isaac), um dos maiores pilotos da galáxia, que acaba de ser preso pelos rebeldes. Antes da prisão, Poe entrega para o droid um mapa com a suposta localização do último Jedi, Luke Skywalker, que desapareceu após se sentir culpado por um conflito com um aprendiz. Tudo muito misterioso, sem contar muita coisa.


Outro personagem importante para o longa é Finn (John Boyega), um stormtrooper de primeira viagem. No seu primeiro dia em uma batalha, percebe a crueldade dos soldados e entende que aquela não é uma vida para ele. Para fugir do local, o soldado encontra Poe, um dos líderes da resistência contra a Primeira Ordem e os dois se ajudam para tentar fugir de Kylo Ren (Adam Driver, que apesar de estar de máscara boa parte do filme, faz uma ótima atuação). 

Ren é aquele vilão realmente ardiloso, que utiliza constantemente o poder da força para passar por cima daqueles que estão contra o seu caminho e a Primeira Ordem. Sobre o polêmico sabre de luz vermelho parecido com uma cruz, relaxa que o vilão te mostra em batalha a real importância da parte pequena e horizontal do sabre.

Assim como é possível ver no trailer, Kylo Ren possui forte laço com Darth Vader, que é uma verdadeira inspiração para o vilão dominar o lado sombrio. Ren é discípulo do líder supremo Snoke (computação gráfica = Andy Serkis), um ser misterioso, que com certeza terá a história aprofundada nos próximos filmes, que também quer saber o paradeiro de Luke. 

Finn e Rey são muito carismáticos, assim como o BB-8, o novo android que todos amaram ainda no marketing do filme e que é um caso a parte. A essência é a mesma do R2D2: aparições importantes para o filme e impossível de não se apaixonar.

Agora chega de enrolação: é emocionante ver a primeira aparição de Han Solo (Harrison Ford), Chewbacca (Peter Mayhew) e Leia (Carrie Fisher). Outros personagens antigos aparecem no decorrer do filme e a emoção é a mesma: um misto de saudade com alegria em vê-los novamente. Ver a Millenium Falcon de novo, nem se fala.


É muito bom ver como o roteiro amarrou os novos personagens com os antigos, sem simplesmente colocá-los em cena em benefício da pura nostalgia. As aparições de todos os citados são de suma importância no decorrer da história. Han Solo, apesar de limitado pela idade, ainda chama a cena para si e domina o quadro quando aparece. Chewbacca continua aquele lindo de sempre e Leia aparece menos, mas com a mesma importância de sempre.

As cenas das batalhas são hipnotizantes. Tanto pela cena inacreditável que você está vendo, com efeitos simplesmente impecáveis, quanto pelos já tradicionais (e perfeitos) efeitos sonoros. O efeito 3D vale muito a pena e te deixa ainda mais imerso no longa.


A trilha sonora de John Williams é de cair o queixo. Entre novas composições incríveis e homenagens aos filmes antigos, é impossível não se emocionar quando determinadas músicas começam. Isso tudo em conjunto com a fotografia do filme, que também é linda. Sem ficar tanto tempo no espaço, o filme se passa em desertos, florestas e campos abertos, mantendo a ideia de Abram em manter o máximo de objetos reais em telas e usando a computação gráfica somente quando necessário.

O filme tem um ritmo frenético, porém sabe o momento perfeito para dar uma leve brecada e já voltar ao ritmo rápido. Além disso, conta com duas surpresas inacreditáveis, daquelas que ficar sem respirar tentando absorver o que aconteceu.

Agora resta participar dos milhares de fóruns e discussões de bar tentando descobrir o futuro da franquia, as ligações entre os personagens e relembrando as melhores piadas do filme, que tem ótimos alívios cômicos com Finn, Chewbacca e BB-8 (sério).


O final do filme abre muitos caminhos para o futuro. Como desvendar a história de Kylo Ren no lado negro (e seu futuro), como outros personagens agora vão ganhar mais destaque e como serão as reações dos personagens após os grandes acontecimentos do final filme.

Como é bom saber que fiz parte de uma geração que acompanhou o lançamento de um filme de Star Wars. Imagino que daqui a 40 anos vai ter um garoto pensando como deve ter sido a nossa reação no cinema ao assistir essa obra. Sempre tive inveja das pessoas que nasceram nos anos 70 e acompanharam a franquia naquela época. Hoje eu não tenho mais inveja. Hoje, J.J. Abrams escreveu a história da minha geração.

Foi emocionante, espetacular, lindo e engraçado. Tudo o que Star Wars foi e agora é. Sabe aquele filme que você só viu uma vez e já sabe que vai lembrar para sempre? Se você não viu ainda, não perde tempo. Como é bom falar de Star Wars no presente!

Nota (de zero a cinco): 5

domingo, 6 de dezembro de 2015

[Música] Crítica: A Head Full of Dreams - Coldplay - 2015

No dia 4 de dezembro de 2015, o Coldplay lançou "A Head Full of Dreams", o sétimo álbum de estúdio da banda.


Com o fim da Era Viva, o Coldplay se decidiu se aventurar em novas experiências musicais. Abraçou o pop em algumas músicas do "Mylo Xyloto", mas manteve a essência dos primeiros álbuns em algumas faixas, como "Charlie Brown" e "Us Against the World". Depois de uma ambientação colorida, com direito a participação de Rihanna em "Princess of China" e as chamativas xylobands nos shows, a banda seguiu um novo rumo.

A separação de Chris com Gwyneth ajudou a fazer "Ghost Stories" um álbum mais obscuro. O flerte com o eletrônico fica mais evidente e a procura por mudanças consegue trazer algumas novidades boas, entretanto com alguns exageros. Com a vontade explícita de fazer shows pequenos, a banda entregou um álbum acanhado, retraído. Quase um solo do Chris Martin. 

Com esse cenário, surge um novo álbum: "A Head Full of Dreams", aquele que a banda prometia que seria uma volta aos estádios. Com isso, o retorno da grandiosidade dos "tempos de ouro". Vamos ao disco:

A Head Full of Dreams. Remete de primeira a "Don't Let It Break Your Heart", do "Mylo Xyloto". Logo é possível perceber a grandiosidade de volta. Por incrível que pareça, a guitarra do Jonny chama a atenção por ser bem presente, o que não deveria causar surpresa em uma banda de rock. Boa faixa para começar o disco.

Birds. Com um começo meio "Take on Me", logo fica meio Radiohead. A voz grave de Chris, o ritmo rápido da batida e o refrão já me deixam apaixonado. O solo de guitarra ajuda a música a crescer mais e mais. Quanto mais escuto, mais gosto de "Birds". Imagino que deve ser incrível ao vivo. Quando escrevo sobre Coldplay, uso "A Rush of Blood to the Head" como referência de qualidade. Acho que "Birds" teria qualidade suficiente para entrar no espaço da repetitiva "A Whisper".

Hymn for the Weekend. A parceria é com a Beyoncé, então já esperava que seria a faixa mais pop do disco. Me surpreendi positivamente. A participação da cantora é mais discreta do que eu imaginava. É uma daquelas que as rádios adoram repetir várias vezes por dia. Sabe aquelas músicas do estilo Bruno Mars que tocam na rádio e que você curte sempre que ouve? Essa música se encaixa perfeitamente nesse estilo. É um pop de qualidade. Ainda assim é um pouquinho mais música da Beyoncé do que do Coldplay. Continuo com medo de ouvir "Got me feeling drunk and high, so high, so high" em uma música deles.

Everglow. Sim, o Chris Martin lembrou que toca piano e nos deu essa bela faixa. Minhas músicas preferidas da banda são aquelas que têm o piano como protagonista, tipo "Amsterdam", "Trouble", "Clocks", "The Scientist", por aí vai. A melodia é ótima e a letra é linda. Ótima música.

Adventure of a Lifetime. É uma boa faixa, mas com elementos muito repetitivos, como as várias vezes que alguns versos são pronunciados na melodia e o riff de guitarra que enjoa com o tempo. Apesar disso, o Guy criou uma linha de baixo gostosa de ouvir e a guitarra, no estilo do último disco do Daft Punk, deixa a faixa bem dançante. Ainda acho que ficaria perfeita na voz do Adam Levine.

Fun. Faixa que se encaixaria bem no "Ghost Stories" até o refrão. Depois é do "Mylo Xyloto". Não conhecia a Tove Lo, que tem uma bela voz. A parceria deu certo, boa música também. O refrão gruda fácil na cabeça.

Kaleidoscope. Seria aquelas típicas músicas de transição. Isso se não estivesse no álbum do Coldplay, que cria uma melodia linda para um poema antigo. No final, tem até o Obama cantando "Amazing Grace" só porque sim. Segue o poema só porque é lindo:

"This being human is a guest house

Every morning a new arrival

A joy, a depression, a meanness

Some momentary awareness comes
As an unexpected visitor

Welcome and entertain them all!
Be grateful for whoever comes
Because each has been sent as a guide"

Army of One. Uma das minhas preferidas, tem um refrão incrível. Mais um ponto alto do álbum, que repito, deve ser incrível ao vivo. Depois da segunda vez que ouvi, fiquei o dia inteiro cantando "Say my heart is my gun, army of one".

X Marks the Spot. A música mais diferente do álbum, mais uma que gostei de primeira, desde o preview liberado nas redes sociais. É uma daquelas que dá vontade de ouvir várias e várias vezes para decorar a letra. Mais uma que deixou na minha cabeça: "Wherever you are, I'll find that treasure". Tem cara de ser uma daquelas que eles nunca tocam no show.

Amazing Day. Ouvi pela primeira vez em um áudio vazado de um show. Eram 10 segundos de um som com uma qualidade sofrível. Mesmo assim, ali eu já sabia que tinha grandes chances de ser uma das minhas favoritas do disco. Resultado: não é só uma das melhores do álbum, como é uma das melhores do Coldplay. Os violinos de fundo, o Ohhh no meio pro final me arrepia toda vez que escuto. Combinaria perfeito com "Christmas Lights" em seguida em um show.

Colour Spectrum. Essa sim é a faixa de transição que poderia sair tranquilamente do disco. Ela é tão pequena que o tempo de pegar o celular para trocar de música já é o tempo que ela termina. Ou seja, é só um "A Hopeful Transmission" 2.0.

Up&Up. A última música que também é a melhor. Consigo ver a essência da banda ao mesmo tempo que entendo todos as experimentações. A música cresce e é uma delícia de ouvir. Os violinos, a batida do Will, o refrão apaixonante, o solo de guitarra sensacional do Noel Gallagher. Música pra fechar show no mais alto nível possível. Tem uma bela letra e um fechamento impactante.

Avaliação geral. Considero cinco músicas ótimas, quatro boas, uma regular e uma que não tem nota. É muito difícil escutar um álbum atualmente e encontrar cinco músicas ótimas. A experiência com o pop exagerado no "Mylo Xyloto e a melancolia excessiva do "Ghost Stories" trouxe um álbum perfeitamente equilibrado. No limite para cada lado.

As faixas são muito bem produzidas, porém não encontrei a continuidade entre as músicas que vi nos álbuns anteriores. Apesar das mudanças, ainda dá para perceber aquela banda cuidadosa com detalhes do "Parachutes" e do "A Rush..." em cada música. O Coldplay é uma banda que deseja fugir do básico. Eles não querem ser reconhecidos sempre pelo mesmo tipo de som. É vital para uma banda saber se reciclar e isso eles sabem fazer muito bem. 

Melhores faixas: Birds, Amazing Day e Up&Up.
Piores faixas: Hymn for the Weekend e Colour Spectrum.
Nota (de zero a cinco): 4,5

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

[Outros] Pobre daquele

Pobre daquele que identifica a água e pensa na sede.

Pobre daquele que imagina uma mulher e vê corpo.

Pobre daquele que vê trabalho como obrigação.

Pobre daquele que ama e não é amado.

Pobre daquele que vê o mar e pensa ver o fim no horizonte.

Pobre daquele que vê um livro e enxerga só papel com tinta.

Pobre daquele que tem acesso ao conhecimento e não aprende.

Pobre daquele que olha para o céu e não vê a imensidão do Universo.

Pobre daquele que nasce e não vive.

Pobre daquele que vive e não aproveita.

Pobre daquele que morre e não semeia amor.

Pobre daquele.

Que só pode ser se existir.

Por si só. Por ser ele.

Aquele.

Ele.

É.

terça-feira, 21 de julho de 2015

[Poema] Daqui a Pouco é Futuro

Tudo que vamos presenciar no futuro
Está sendo construído agora
Invenções, histórias, inspirações
Tudo está em fase de montagem.

Todo o futuro que vai se tornar passado
Todo o depois que vai virar antes
O tempo não mostra sua velocidade
E o ser humano passa a viver santificando os seus ponteiros.

Escrever sobre o futuro é fácil
É possível criar com sua vontade
Não prever, não inventar
Apenas apontar e seguir em frente.

Não é papel do homem tentar ver o futuro
É só mais uma ilusão criada para o planejamento ilusório
Criar, errar e se adaptar
Esse é o homem navegando em águas que ainda não foram descobertas.

O futuro tem tudo o que o homem precisa
Dá a chance de tentar, errar e buscar o certo
Afinal, daqui a pouco sempre será futuro
Daqui a pouco sempre será recomeço.

terça-feira, 14 de julho de 2015

[Poema] Imortal Escrita

Tudo que queria escrever
Já foi escrito por alguém
Tudo que eu li
Já foi lido por alguém.

Todas as histórias que foram contadas
Todas os contos de gente sofrida
Todos os casos de gente bem de vida
Sobreviveram por mais de 40 mil gerações.

Da vida que se tornou história
Da lenda que se tornou mito
Da realidade que se tornou ficção
Até a fantasia que ultrapassou a imaginação.

A história é como a morte de uma estrela
Mesmo não aqui e distante
Continua guiando e inspirando
De jovens sonhadores a velhos sábios.

Em uma vida com tempo para vencer
O ser humano não pode viver para sempre
Mas aprendeu a manipular a morte
Imortal e bendita seja a escrita.

domingo, 5 de abril de 2015

[Série: Versos de Ciências] O princípio da incerteza

Certas coisas simplesmente acontecem sem consequências. São momentos vividos, sentidos e que precisamos fingir que não existem. São lembrados, mas ninguém sabe. Assim como o tempo "ignorado" antes do Big Bang. Nada antes da grande expansão teria resultado diferente.

Tudo o que existiu não importava mais. Tudo se modificaria, mas chegaria novamente ao mesmo final, teria a mesma forma de milésimos antes do Big Bang. O agora se passa antes ou depois da grande virada? O presente é uma recordação válida ou tudo será esquecido?

Não sei qual a consequência. Não sei se caminhamos para o mesmo destino. É impossível perceber se um momento se apresenta como lembrança ou se caminha para o esquecimento.

Como a mecânica quântica, prevemos quase tudo que se observa a nossa volta, tentando criar uma boa lembrança mesmo antes de sair de casa. Certas pessoas evitam prever. Preferem seguir em frente, na busca de encontrar alguma coisa que faça sentido.

É difícil saber que uma pessoa prefere procurar pela última peça de um quebra-cabeça de joelhos, ao invés de levantar e ter uma visão geral da sala.

Cada um procura em seu tempo, cada um pode ter sua própria maneira de criar lembranças. Algumas pessoas arquitetam o dia seguinte no travesseiro e outras simplesmente se desligam até dormir.

Sempre há o risco de perder uma oportunidade, pois é complicado saber o momento exato de tomar partido. Werner Heisenberg aprendeu a calcular mesmo sem determinar com precisão.

Mesmo sem garantias, os humanos sempre se apoiaram uns nos outros para achar vida. É como descobrir com o parceiro que é possível aprender em conjunto, um ensinando o outro.

Errando e acertando dentro dos limites estabelecidos pelo princípio da incerteza.

domingo, 22 de março de 2015

[Série: Versos de Ciências] O romance espaço-tempo

Ela queria espaço. Ele queria tempo.
O tempo era quase imperceptível para ele e lento para ela. O espaço era uma imensidão para ela e pequeno para ele.

Diziam que eram inalterados. Tudo mudava, menos o tempo e o espaço.
Aristóteles dizia que eles só se movimentavam quando guiados por algum impulso.

Enquanto ela seguia o pensamento aristotélico de guiar a vida sem comprovações, ele era o Galileu que subia na Torre de Pisa para jogar os pesos. Ela aceitava a felicidade teórica e ele queria mostrar na prática que tentava achar o certo.

Ele dizia que tudo estava mudando. Ela dizia que não sentia o mesmo. Eles se atraíam, mas ela fingia uma outra rotação.

Ela queria distância. Ele se defendia com a lei da gravidade de Newton dizendo que quanto mais afastados, menor será a força da atração.

Ela dizia que ele deveria respeitar a visão dos outros. Se defendia com o exemplo do trem em movimento. A opinião pode ou não estar a seu favor. Tudo depende, assim como o trem pode estar parado e a Terra em movimento.

Ele disse que o relacionamento deles era como olhar para as estrelas com um telescópio. Com a distância, tudo que olhamos já não está igual, aconteceu e virou passado.

Era natural pensar que seria assim para sempre, mas durou pouco.

Eles mostraram que não era possível ter uma posição absoluta, era preciso ceder.

Ela ganhou espaço.
Ele ganhou tempo.

Ela em seu espaço se moveu, mas se sentiu sozinha. Afetou a curva do espaço e do tempo.
Ele em seu tempo esperou, mas demorou demais. Afetou e foi afetado por tudo.

Assim como não é possível explicar o universo sem noções do espaço-tempo, torna-se sem sentido falar dele, sem lembrar a história dela.

Juntos, na relatividade geral, eles contaram uma história de amor universal.

domingo, 1 de março de 2015

[Cinema] Crítica: Birdman Ou (A Inesperada Virtude da Ignorância) - 2014

Riggan Thomson (Michael Keaton, em um papel espetacular) é um ator que ficou marcado por apenas por um personagem. Birdman foi um herói de uma trilogia baseada em quadrinhos lançada há muito tempo, que o deixou muito conhecido, mas que dificultou sua carreira na busca de novos papéis.

Muitos anos depois, o ator adapta o livro de Raymond Carver com ajuda do agente Brandon (Zach Galifianakis), escrito há mais de 60 anos, para uma peça de teatro da Broadway. Tudo para tentar um recomeço.

Lembrando que a crítica contém spoilers, então cuidado. Assiste o filme e depois volta aqui! 

Com o andamento do filme, fica fácil entender os motivos do longa de Alejandro G. Iñárritu ter conquistado quatro estatuetas no Oscar: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Roteiro Original e Melhor Fotografia.

A história de "Birdman" é um verdadeiro mar de críticas contra o cinema, o teatro, os atores, os críticos, os roteiros e o público. O filme não se importa em falar nomes de atores e criticar o papel de muitos na indústria hollywoodiana.

O filme começa com a procura de Riggan (Michael Keaton, um dos indicados para melhor ator) por um novo ator para a peça. O escolhido, Mike Shiner (Edward Norton, indicado para o Oscar de melhor ator coadjuvante), ajudaria a atrair a crítica e o público, mas representa aqueles atores que ainda não chegaram ao estrelato e que fazem exigências ridículas para participar de um filme.


Os famosos coadjuvantes que após fazer o mínimo de sucesso em um filme sentem-se os maiores atores da face da Terra.

O mesmo acontece com Lesley (Naomi Watts), que sempre sonhou em um papel da Broadway e que não consegue se contentar com o papel de hoje. Como aquele tipo de ator que quer estrelar um blockbuster sem antes ter feito um papel importante. Algo como pegar o elevador todos os dias sem antes ter experimentado subir uns bons andares de escada.

Uma jornalista pergunta se Roland Barthes, filosofo francês, participou de um dos filmes do Birdman. Em outras palavras, outra crítica: jornalistas despreparados para entrevistas. Ao invés de perguntar sobre a nova peça de teatro, pergunta se é verdade se Riggan injetou sêmen de bebê porco para rejuvenescimento facial, pois viu em um post no Twitter. Outra reclamação: jornalistas que se baseiam em rumores e fontes inadequadas.

"Deveríamos ter aceitado o 'reality' que nos ofereceram", representando toda a comodidade que é aceitar um papel imbecil do que arrumar um jeito de financiar uma peça ou adaptar um roteiro.

Sam (Emma Stone, que logo deve ganhar um Oscar), filha de Riggan, comenta a atual importância de viralizar para tornar algo um sucesso e a falsidade de atores que dizem se sacrificar "em nome da arte", mas que não verdade só querem promover a própria carreira. Não ter um blog, um Twitter ou um Facebook, torna um ator invisível, segundo Sam.

O "viralizar" é justamente entrada para a crítica ao público, que dá mais valor ao bizarro do que ao merecimento. A crítica é representada no filme com a cena de Riggan de cueca nas ruas e no palco.

O trabalho no teatro, o suor dos ensaios e desafios dos bastidores nunca serão mais lidos do que um ator famoso de cueca no meio da rua.

Outra contra o público: todos possuem gostos iguais e são preguiçosos. "Eles amam sangue, eles amam ação. Nada dessa conversa depressiva e filosófica", dizendo que a grande massa só quer ver mais do mesmo, pois pensar cansa.

Mais uma crítica é referente... aos críticos. Tabitha Disckenson, do Times (ou "aquela que parece que lambeu a bunda de um mendigo"),  é citada como a única opinião que importa em NY. Se ela gosta de uma peça, vira um sucesso. Se não gostar, será um fracasso. Ela fala sobre o teatro como se fosse algo de propriedade dela: "Você (Riggan) tomou um teatro que deveria ser usado com algo de valor", comenta em um bar.


"Um homem torna-se crítico quando não pode ser um artista", diz Mike. Dickenson é mal-intencionada. Antes da peça começar ela diz: "Não se preocupe, eu farei uma crítica ruim". A crítica acredita ter tanto poder, que pode julgar o que é arte de verdade. Ela fala mal da rotina dos atores, que entregam prêmios uns aos outros por fracas produções.

Riggan se defende dizendo que a crítica nada mais é do que uma rotulação, de colocar etiquetas com elogios ou maldades sobre algo na mídia. A mídia acaba esquecendo de falar sobre técnica, estrutura e roteiro, criando apenas comparações sem sentido.

A trilha sonora é basicamente uma bateria que se intensifica ou fica lenta. Algumas vezes, a trilha é feita por um elemento que aparece na cena, como um baterista na rua ou no meio dos corredores do teatro (?).

Não se incomode em ver muitas cenas sem sentido no filme, uma hora você se acostuma e entende o significado.

O diretor Alejandro G. Iñárritu, inova na maneira de filmar. A obra foi feita como se fosse apenas uma tomada, em plano-sequência. Em nenhum momento existe algum corte perceptível de câmera, que de vez em quando fica parada, gira ao redor da cena e que muda de cenário com uma facilidade incrível.

Apesar da câmera seguir na mesma sequência, o filme não se passa em apenas um dia ou em só um cenário. E essa é uma das maiores qualidades do longa. O tempo passa, o cenário muda e a câmera continua seguindo os atores. Gravar um filme inteiro desta maneira deve ter dado um trabalho gigantesco. Oscar de melhor diretor merecido pelo Iñárritu, que contou uma excelente história e de maneira arriscada.


"Birdman" critica tudo e todos, mas não esquece de contar uma história com grandes atuações e principalmente inovação. O filme joga na nossa cara como é difícil criar e como é fácil reclamar.

Tudo no filme pode ter diversas interpretações, inclusive o final, que poderia escolher o básico, jogo fácil, simples.


Mas quem disse que "Birdman" era para ser simples?
Ah, não se preocupe. Assim como o início e o meio, o final é incrível.

Nota (de zero a cinco): 5

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

[Cinema] Crítica: A Teoria de Tudo - 2014

"A Teoria de Tudo" conta várias histórias ao mesmo tempo: descreve como um estudante se tornou um dos cientistas mais respeitados no mundo, a construção da história de amor entre dois jovens, como uma pessoa pode lutar contra uma doença terrível e viver sabendo que tem pouco tempo de vida. O roteiro se movimenta entre os temas e consegue se sair bem em todos.


Lembrando que a crítica contém spoilers, então cuidado. Assiste o filme e depois volta aqui! 

Quando soube que seria contada a história de Stephen Hawking no cinema, admito que fiquei muito empolgado. Não é comum ver um cientista como protagonista, principalmente em um drama com uma história de amor.

Inspirado no livro "Travelling to Infinity: My Life with Stephen", de Jane Hawking, a trama do diretor James Marsh começa com Hawking (Eddie Redmayne, excepcional) na Universidade de Cambridge, já se destacando como um promissor cosmólogo. De uma forma natural e convincente, conhece Jane Wilde (Felicity Jones, indicada ao Oscar de melhor atriz), uma estudante de artes e literatura.

O filme se apoia em dois temas para desenvolver o roteiro: o desdobramento do relacionamento de Jane e Hawking e como a doença degenerativa ELA (esclerose lateral amiotrófica) modificou a vida do cientista.

                 

Desde o início da trama, é possível perceber a evolução da doença de Stephen. Um leve movimento involuntário, que derruba um copo de café, mostra apenas o começo. No hospital após uma queda, o médico avisa que o cientista terá apenas mais dois anos de vida e que aos poucos não vai mais conseguir se movimentar, engolir ou falar. A locomoção fica lenta e logo precisa de muletas.

Sentado na mesa de jantar com amigos, Hawking percebe que não consegue mais se alimentar sozinho e observa os outros sentados na mesa. Um simples movimento de levantar uma colher torna-se um grande desafio.

Saindo do jantar, ele tenta subir a escada para o seu quarto e não consegue. Ao mesmo tempo, observa Jane. A partir deste momento, Stephen percebe que nunca mais será o mesmo.

Jane é um verdadeiro pilar para Hawking. Ela cuida desde a alimentação, banho, até uma ajuda para colocar uma roupa limpa. O mais importante era que Jane fazia por amor, não como uma obrigação. Ela sabia qual seria o futuro do casal, mas insistiu com o relacionamento.

Mesmo com a doença, Stephen insiste em continuar trabalhando. Sua teoria de buracos negros e o tempo é aplaudida por seus professores e conquista o mundo. Tudo isso preso a um corpo que não corresponde às suas necessidades.

Antes de "A Teoria de Tudo", tive dúvidas quanto a escolha de Eddie Redmayne para o papel, que tinha visto trabalhar apenas em "Os Miseráveis". Porém, desde o começo do filme, Redmayne representa um Stephen que aceita as suas dificuldades e que pode ser gentil, teimoso e um gênio, tudo ao mesmo tempo.

É comum a Academia dar o Oscar a atores que superam problemas em um papel. Apenas nos últimos anos, Colin Firth venceu como o gago rei George VI, em "O Discurso do Rei", e Matthew McConaughey, como um eletricista diagnosticado com AIDS, em "Clube de Compras Dallas".

A escolha de Redmayne como melhor ator é mais do que justa. A maneira que o jovem ator representa tudo o que o cientista sentia, mesmo sem poder se movimentar direito, é impressionante. A dificuldade na fala, os pés tortos, a forma de sentar na cadeira, o toque impreciso nos controles... todo o trabalho é impecável e justifica o Oscar de melhor ator a um novato.


Outros pequenos detalhes, como a posição dos seus dedos atrofiados, um olhar diferente para representar ironia ou a maneira que sua locomoção muda conforme a evolução da doença, constroem uma atuação incrível.

A cena em que Stephen imagina levantar para pegar uma caneta é linda de ver. Encostado na cadeira, Eddie arruma sua postura, levanta mancando, e aos poucos fica "saudável" de novo.

A cena é incrivelmente bem feita, com uma leveza única. O maior desejo de um físico que estuda a origem do Universo é apenas ficar de pé novamente.

Felicity Jones também mostra muito bem o outro lado, de quem não tem a doença, mas que é obrigada a viver com dificuldade em nome da felicidade do casal. Ela mostra a paciência (e o cansaço) que é necessária cuidar de uma pessoa, ainda mais com a teimosia de Stephen, e como é possível passar por obstáculos em nome de um relacionamento.

Além das excelentes atuações, destaque para a belíssima trilha sonora de Jóhann Jóhannsson e a fotografia simplesmente linda, com cores intensas.


Mesmo com o livro lançado, com sua popularidade no mundo todo e o respeito de diversos cientistas, seu maior orgulho é o relacionamento com Jane e seus três filhos.

"A Teoria de Tudo" mostrou absolutamente tudo o que eu esperava. Atuações espetaculares, uma fotografia linda e a história de superação de um gênio da física.

Ao escolher contar uma história de amor, o diretor acertou em cheio. O filme é feito para fugir do rótulo de apenas mais um romance, desenvolvendo uma história de um casal sem ser piegas. O roteiro conseguiu balancear bem a doença, o relacionamento e a ciência.

Criar um filme com base em uma biografia poderia ser monótono nas mãos erradas. O diretor poderia seguir por outros caminhos e criar um personagem metido e arrogante. Poderia detalhar o caminho para chegar na teoria dos buracos negros e como o mesmo desacreditou a própria criação. Podia entrar no tabu da religião contra ciência. Mas ainda bem que não foi o caso.

O diretor acertou em se contentar em contar a história de amor de um cientista. Espero que o filme aumente a curiosidade das pessoas em relação a ciência.


Se cada pessoa que guardou um tempo para ler "50 Tons de Cinza" tivesse tempo para ler "Uma Breve História do Tempo" do Hawking ou "Pálido Ponto Azul" de Carl Sagan, teríamos um mundo melhor. Se não tivéssemos um mundo melhor, pelo menos teríamos discussões mais inteligentes.

Nota (de zero a cinco): 5

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

[Cinema] Crítica: Whiplash - Em Busca da Perfeição - 2014

Atenção! Whiplash, o vencedor de três categorias no Oscar, não é um musical. Você já pode se livrar do trauma de Mamma Mia e esquecer Glee. O diretor Damien Chazelle mostra como um filme sobre música pode contar uma história digna de um dos melhores filmes do ano. Até porque ser um músico não é só subir em um palco e ser aplaudido.

Lembrando que a crítica contém spoilers, então cuidado. Assiste o filme e depois volta aqui!

Andrew Neiman (Miles Teller, guarde este nome) é um aluno do primeiro ano do Conservatório Shaffer, a melhor universidade de música dos EUA. Neiman tem o sonho de se tornar o melhor baterista de jazz da sua geração.



O principal professor do local, Terence Fletcher (J. K. Simmons, em um dos melhores papéis da sua carreira), procura por músicos talentosos para a banda principal da universidade, a Studio Band. Baterista reserva da turma de estudantes, Andrew é chamado para um teste com a banda como suplente. 

Mesmo os músicos mais experientes tem medo de Fletcher. Quando ele entra no estúdio, todos olham para o chão, sem manter contato visual. Ao escutar um instrumento desafinado, imperceptível para um leigo, o professor faz o cara do trombone chorar e se retirar. Sinta o nível:


Antes de começar o ensaio, Fletcher dá um apoio ao novato: "Divirta-se, não fique preso aos números". Ao começar a tocar e cometer um erro, que até agora não encontrei, o professor pressiona Andrew. E mais. E mais. Aos berros. É muita pressão. 

Andrew decide praticar até ficar exausto. Mais do que isso, deixa sangue na bateria com as feridas causadas pelo esforço repetitivo com as baquetas.

Apesar do filme focar no professor e no aluno, ainda é pouco discutida a relação de Neiman com a família. Ele precisa explicar sobre o futuro incerto de alguém que está só começando no mundo da música. "Prefiro morrer bêbado e falido aos 34 anos tendo pessoas falando sobre mim na mesa, do que rico e sóbrio aos 90 e ninguém lembrar quem eu era", diz o jovem na mesa de jantar.

Em meio a tudo isso, ele convida Nicole (Melissa Renoist), funcionária de um cinema, para um encontro. Ela é uma típica jovem que ainda não sabe qual rumo seguir. Seu papel no filme é curto, mas coloca na cabeça de Andrew que nada, nem ninguém deve atrapalhar seu caminho. Para tentar ganhar, muita coisa fica perdida no caminho.


Destaque para as várias cenas entre Simmons e Miles. Em uma delas, enquanto um chuta partes da bateria para longe, em pleno contraste depois de chorar em nome de um competente músico que faleceu, o outro deixa sangue na bateria com uma expressão de raiva e dor, completamente esgotado.

A relação entre os dois anda entre a admiração, a raiva, a decepção e o orgulho. Andrew se torna tão intenso quanto Fletcher.

Se um só consegue viver com a perfeição na música, o outro se esforça o máximo possível para encontrar o reconhecimento. "Qualquer idiota balança os braços e mantém uma banda no ritmo. Eu estava lá para empurrar as pessoas para além do que se espera delas", comenta o professor.

Simmons mostra porque venceu o Oscar de melhor ator coadjuvante. Sua atuação é muito expressiva e impressionante. Ele consegue transparecer raiva e profundidade, mesmo sem o filme contar muito sobre sua historia. 

Quanto a Miles Teller (o novo Reed Richards, do reboot do Quarteto Fantástico), fica um futuro brilhante pela frente. Não tenho dúvidas que se escolher os papeis certos, um dia será indicado. 

A vontade de Fletcher de moldar uma lenda faz sentido até um certo ponto. 


Óbvio que humilhar alguém não é a melhor forma de ensinar, mas muita gente fica confortável vivendo na comodidade. São poucos que se esforçam para dar mais alguns passos. Uma lenda não desistiria tão fácil.

Whiplash poderia ser um filme clichê sobre a conquista de um sonho, mas escolheu um caminho alternativo, apostando na bateria e em uma base no jazz, um gênero que para grande parte da nova geração se tornou antiquado. 

  
O filme é excelente justamente por fugir do caminho mais fácil. Na busca de um objetivo você tem duas opções: procura uma pessoa para te dar um empurrão ou deixa sangue e suor no caminho. 

Nota (de zero a cinco): 5

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

[Cinema] Crítica: O Jogo da Imitação - 2014

Baseado em fatos reais, a maior parte de "O Jogo da Imitação" se passa em plena Segunda Guerra Mundial. Trata-se da história de Alan Turing (Benedict Cumberbatch, em um papel brilhante), que viveu em uma época complicada e intolerante. O longa também apresenta cenas da sua infância no colégio, mostrando como ele começou a lidar com a homossexualidade, e das consequências do fim da guerra.

Lembrando que a crítica contém spoilers, então cuidado. Assiste o filme e depois volta aqui!

Considerado um prodígio pela inteligência fora dos padrões, Alan é um gênio matemático, porém prepotente e arrogante. Ele sabe bem do seu potencial e que é o melhor do seu país em decifrar códigos.

Ele sabia que podia ajudar os aliados a tentar quebrar o código da "Enigma", máquina utilizada pelos alemães para criptografar mensagens secretas. Os aliados recebiam as mensagens, porém não conseguiam decifrar.

Além da gigantesca complexidade, o sistema reiniciava rapidamente, criando em pouco tempo um novo código para transmitir a mensagem. Para tentar resolver o que os franceses e americanos ainda não tinham conseguido, o governo de Winston Churchill, primeiro-ministro do Reino Unido durante a Segunda Guerra Mundial, cria uma equipe com os melhores matemáticos ingleses.

O time liderado por Hugh Alexander (Mathew Goode) recebe Alan, mas logo se cansa da pouca ajuda, já que ele se importa apenas em criar um esboço de uma máquina para decifrar o "Enigma".



Após uma reclamação oficial da equipe para o comandante Denniston (Charles Dance, o Tywin Lannister, de Game of Thrones), Alan resolve explicar seu plano enviando uma carta diretamente para Churchill.

Com a resposta positiva para a continuidade do projeto, Alan se torna o líder da equipe, demite dois funcionários sem a menor culpa e decide se jogar de vez na criação da máquina, junto com Hugh, John Cairncross (Allen Leech), Peter Hilton, (Matthew Beard) e Joan Clarke (Keira Knightley), a única mulher do grupo.

São trilhões de possibilidades para decifrar. Segundo as contas do próprio protagonista, seriam necessários 20 milhões de anos para descobrir algo. Se os humanos não são capazes de decifrar a máquina, quem sabe uma máquina possa pensar mais rápido e criar um padrão.

Nas cenas da sua infância, Alan cria uma relação com o amigo Christopher através da criptografia. Por meio dela, o jovem começou a se interessar por códigos. Com a perda inesperada do amigo, justamente no momento que percebe que o sentimento é maior do que uma amizade, Alan passa a ficar cada vez mais sozinho e a se dedicar somente aos estudos. No futuro, essa seria uma base para a criação da sua máquina, a "Christopher".

A atuação de Cumberbatch é impecável. Em certos momentos, ele demonstra total controle de tudo. Em outros, fica gago, inofensivo e demonstra nervosismo diante de violência, fruto do bullying sofrido quando criança. O papel, que lembra a inteligência e arrogância de Sherlock, parece ser feito para o ator.

Keira Knightley também não deixa nada a desejar. Joan é muito importante para o desenvolvimento da história e representa as mulheres que podiam muito bem ser mais do que apenas cozinheiras ou recepcionistas na guerra. Mesmo em um grupo de homens, ela conseguia se destacar por seu pensamento rápido. Joan era uma das poucas pessoas que entendiam Alan.

O final é ao mesmo tempo feliz e triste. Feliz por conta de um gênio, que salvou milhares de vidas por diminuir o tempo de guerra em mais de dois anos. Graças a ele, tivemos o início de um protótipo do computador e diversos derivados de sua tecnologia.

A parte triste é o cenário em que a invenção foi criada e a intolerância com os homossexuais na época. Alan foi obrigado a esconder quem realmente era. Ele foi obrigado pelo governo inglês a fazer uma castração química, terapia com hormônios femininos. Turing se suicidou aos 41 anos.

Para ter noção, apenas em 2013, a rainha Elizabeth II concedeu perdão real a Alan pela sua condenação por homossexualidade. Diversas outras histórias continuam mantidas em sigilo como segredo de guerra.

Imagino quantos "Alans" permanecem desconhecidos e quantas pessoas geniais foram obrigadas a permanecer em silêncio após uma criação. Já imaginou se o maior feito da sua vida não pudesse ser divulgado?

Desejo apenas que a história do Alan Turing não seja apenas vista como "o cara que criou o computador". Gênios precisam ser conhecidos e suas histórias precisam ser contadas para inspirar outros gênios. Felizmente, o cinema é o lugar perfeito para isso.

Nota (de zero a cinco): 5

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

[Cinema] Crítica: O Grande Hotel Budapeste - 2014

A história de "O Grande Hotel Budapeste" acontece entre as duas grandes Guerras Mundiais, mais especificamente em 1932 na fictícia ex-República de Zubrowka, na fronteira europeia mais oriental, na cidade de Nebelsbad. A trama tem como base um hotel que já foi muito conceituado, mas que começou a descambar para uma futura demolição. Lembrando que a crítica contém spoilers, então cuidado. Assiste o filme e depois volta aqui!

Trata-se de um livro de memórias lido por uma menina em 1985, com um homem contando em 1968, as histórias vividas em 1932. Parece complicado, mas no filme é bem fácil de entender. O dono do hotel, Sr. Zero Moustafa, (F. Murray Abraham) vê o local com olhos de um romântico, como uma velha ruína encantada.


O filme começa com a história contada pelo dono do hotel, sobre como Zero (jovem vivido por Tony Revolori) virou mensageiro e melhor amigo do concierge Monseur Gustave H. (excelente atuação de Ralph Fiennes).

O concierge estava acostumado a dar um "tratamento especial" para as hospedes idosas, loiras e ricas. Era assim que ele mantinha a fidelidade e deixava o hotel sempre cheio. Até que uma das hospedes, Madame D, falece e deixa uma grande herança.
No meio dela, o quadro "O menino e a maçã", de Van Hoytl, herdado por Gustave para fúria de Dmitri (Adrian Brody), filho de Madame D e sua gigante família.



Gustave é considerado culpado mesmo sem provas do assassinato de Madame D e do roubo do quadro renascentista mais valioso do mundo, um dos poucos ainda fora dos museus. A história segue com as consequências da prisão, a batalha pela herança e a procura de manter intacto o nome do Grande Hotel Budapeste.

O diretor Wes Anderson consegue juntar suspense, perseguições, prisão, mortes e comédia. São diversos recortes em um só roteiro, que fluem muito bem no produto final. Já uma característica do diretor, as câmeras centralizam o foco da ação.

Os diálogos são rápidos e sempre acompanhados por uma dose de humor, que consegue ser respeitoso e agressivo ao mesmo tempo. As cenas entre Zero e Gustave sempre são acompanhadas de esquisitices e ironias.

Dmitri e Jopling (Willem Dafoe, cruel capataz do herdeiro), dão a impressão de vilões de filmes antigos, inclusive com trilhas de terror quando aparecem. Porém, a maldade é vista por um lado mais light, mesmo com cenas não tão comuns em filmes mais leves.

Ralph Fiennes faz um grande trabalho, retratando M. Gustave um homem educado e refinado, definitivamente alguém fora de sua época, mas ao mesmo tempo metódico ao extremo e adorador de poesias. O filme ainda conta com ótima participação de Jude Law, Edward Norton, Bill Murray, Owen Wilson, entre outros.

O resultado é um filme com um sentimento nostálgico, com um toque de ironia e muito perfeccionismo. No final das contas, as câmeras são tão simétricas quanto os costumes exagerados de Gustave.

O filme foi lançado em fevereiro de 2014, mas não perdeu o fôlego e conseguiu nove indicações para o Oscar e o Globo de Ouro de melhor filme de comédia ou musical.

Se o dono do hotel vê o Grande Budapeste como uma velha ruína encantada, Wes Anderson resgata o humor de suas inspirações e transforma seu filme de 2014 em um grande clássico consagrado.

Nota (de zero a cinco): 4,5

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

[Cinema] Crítica: Interestelar - 2014

Depois de assistir "Gravidade", fiquei ainda mais fascinado por qualquer notícia/filme/livro sobre espaço. A beleza das cenas de Alfonso Cuarón em IMAX me impressionaram. Muito. O tempo passa e me deparo com o trailer de Interestelar, com um elenco sensacional e direção de Christopher Nolan, que explodiu minha cabeça com "A Origem". Nem vou entrar nos méritos da trilogia "Batman". Lembrando que a crítica contém spoilers, então cuidado. Assiste o filme e depois volta aqui!


Matthew McConaughey, pra começar, passa por uma fase espetacular. Depois do Oscar em "Clube de Compras Dallas" e roubar a cena em uma ponta em "O Lobo de Wall Street", McConaughey dá destaque a tudo que participa atualmente.

Em Interestelar, ele vive Cooper, um engenheiro que se viu obrigado a trabalhar como fazendeiro. Ele vive na Terra em um futuro distante, que sofre com uma praga, que causou tempestades de poeira constantes. Obrigados a viver nesse mundo praticamente pós-apocalíptico, porém que ao menos parece plausível, os humanos procuram apenas sobreviver. É uma Terra que não precisa de engenheiros, mas sim de fazendeiros, de alimentos.

Cooper mora com seus dois filhos, Tom e Murph, jovens com um futuro promissor e seu pai Donald (John Lithgow). Através de uma anomalia gravitacional, Cooper descobre junto com Murph, a sede escondida da NASA. Em um mundo que mal tem comida, quem vai pensar em exploração espacial, certo?

Em pouco tempo, o engenheiro/fazendeiro, que também já foi piloto de testes da agência espacial, é convidado pela NASA (que não sabia que Cooper estava vivo) para uma viagem rumo ao desconhecido.

Murph encontra dificuldades para deixar o pai partir em uma missão em que ninguém sabe se vai dar certo e que não tem uma data certa para acabar. Tudo em nome da confiança na teoria do professor Brand (Michael Caine), cabeça da missão toda, e na fé na ciência.

A ideia da missão é encontrar um buraco-de-minhoca recém-descoberto por cientistas, próximo da órbita de Saturno, que leva a uma nova galáxia. Nela, foram descobertos planetas que provavelmente podem ser habitáveis. Para tirar a dúvida, voluntários/cientistas partiram em uma viagem solitária e sem volta para conhecer os planetas  O que é um tiro no escuro, já que "provável" pode significar a morte. Mesmo assim, é melhor do que ficar na Terra comendo poeira e aguardando a extinção.

Apesar do péssimo cenário no planeta Terra, a tecnologia avançou bastante em certos quesitos. Os humanos aprenderam a viajar longas distâncias em menos tempo, aprenderam a programar um estado de hibernação para esperar o tempo passar e criou a mais alta tecnologia em inteligência artificial.

O TARS e o CASE são robôs de suporte aos tripulantes, que trabalham tanto na manutenção e movimentação da nave, quanto em piadinhas programadas. É possível medir 90% de sinceridade, 70% de humor...eles são úteis, simpáticos e possuem um formato um tanto quanto mutante, com formas que podem mudar de acordo com a adaptação de terreno. Definitivamente, um excelente ponto positivo.

Após a "pesquisa", três planetas foram confirmados como habitáveis pelos próprios voluntários. O papel da equipe de Cooper, composta por Brand (Anne Hathaway), Doyle (Wes Bentley) e Romilly (David Gyasi), é visitar os planetas e confirmar a possibilidade de viver em um deles.

Após a apresentação da Terra devastada e o vínculo forte da família de Cooper, Christopher Nolan começa com as esperadas cenas de espaço.

Assim como em "Gravidade", elas são de tirar o fôlego. A trilha sonora consegue mostrar a solidão do espaço com um piano tranquilo e ao mesmo tempo a imponência do silêncio.

Com tanto tempo de missão, afinal Saturno não fica ali na esquina, Nolan opta por temas como amor, fé e humanidade, porém sem a visão piegas. Para debater o efeito causado pelo tempo, os quatro tripulantes da nave conversam sobre a real compreensão do amor e a sua utilidade na sociedade.

Um interessante ponto é tocado por Brand: "Seria o amor algo maior? Um artefato de dimensão superior que não notamos conscientemente?". Nada de errado na colocação. Humanos amam pessoas mortas, amam pessoas que não conhecem, amam pessoas que ainda vão nascer e são capazes de amar mesmo distantes uns dos outros. Não inventamos o amor, nascemos sentindo, algo tão comum quanto respirar ou piscar.

Teria o amor um outro sentido? "Afinal, o amor é a unica coisa capaz de transcender as dimensões de tempo e espaço", completa a Dra. Brand. Misteriosa ou não, essa necessidade de estar com outras pessoas nos faz humanos, nos dá vontade de viver.

Me chamou a atenção essa procura minuciosa pelos detalhes com algo que não sabemos como funciona. A passagem pelo buraco-de-minhoca e a aproximação do buraco negro são cenas simplesmente espectaculares, daquelas para voltar várias vezes para assistir com calma.

Trata-se de um cuidado impecável na tentativa de demonstrar algo que nunca foi visto, porém da forma mais plausível possível. Nunca vimos algo parecido, mas acreditamos que, se acontecesse, seria daquela forma. E isso é muito daquilo da velha magia do cinema, de tentar levar o espectador em locais nunca antes desvendados.

Nolan toma cuidado para explicar e deixar tudo bem claro para ninguém se perder com a história do espaço-tempo. Aquela história, o tempo de alguém que viaja no tempo-espaço na velocidade da luz é diferente de quem fica na Terra. E é exatamente isso que apresenta um desenvolvimento aos personagens que ficaram na Terra, como Murph (adulta vivida por Jessica Chastain) ou o professor Brand.

Preciso destacar também que é uma puta coragem para um diretor consagrado como o Nolan contar uma historia tão arriscada, muito, muito longe da zona de conforto..

Existe até a teoria de que "eles" (leia-se deuses, extraterrestres, algo superior) estão nos olhando em algum lugar da quinta dimensão. "Eles" ajudam a nossa compreensão. Se não somos tão evoluídos a ponto de conversarmos, "eles" nos ajudariam a entender a nossa realidade. "E se, para 'eles', o tempo e só uma questão física, de subir ou descer uma colina?", diz mais uma vez a Dra. Brand. A apresentaçao de tempo como algo físico me fascinou.


Diferente de "A Origem", o final apresenta uma resposta justa a todas as pontas soltas. Não precisa esperar os créditos para saber se o peão parou de rodar. Existem casos e casos, claro, mas aquele papo de "o final fica à mercê do espectador" para mim é história de diretor e redator que não tem culhões para sustentar seu próprio final.

Quanto as atuações, o filme me levou tão longe, que parei de prestar atenção em Matthew McConaughey, Anne Hathawhay ou Chastain. Eram apenas os personagens. Acredito que isso é um ótimo elogio. Sabe quando falam que o árbitro que não aparece no jogo é aquele que está com a partida em suas mãos?

Um filme de imagens espectaculares, diálogos inteligentes sobre assuntos importantes da existência humana e a megalomania do Nolan. Espero que a moda de filmes espetaculares no espaço continue por um bom tempo. Seja esse tempo físico ou não.

Nota (de zero a cinco): 4,5

domingo, 25 de janeiro de 2015

[Crônica] A vida da Cinza

Essa história aconteceu no estojo de lápis de cor da Alice, de 5 anos. A história da senhorita Cinza. Filha do senhor Preto com a dona Branco, logo na pré-escola dos lápis, a Cinza já se sentiu excluida.

No parquinho, não era aceita na brincadeira com a Amarelo e com a Vermelho. O Azul então, por quem tinha uma queda, nem dava bola. Todos diziam que ela não era nem uma coisa, nem outra. Pior, seu apelido era "Neutra" ou "Fúnebre".

Cansada das brincadeiras de primário (literalmente), pensou em uma mudança na sua vida: "Mãe, quero ser Rosa!". A dona Branco ficou surpresa: "Filha, você é linda da forma que você é!". Com a insistência da filha, revelou um segredo de família: "Cinza, como sou Branco, rainha de todas as cores, você pode virar a cor que você quiser. Mas tem uma coisa: você só pode escolher uma vez por dia. É só se concentrar e pensar na cor".

A pequena ficou radiante. Fechou os olhos e pensou: "Rosa, Rosa, Rosa!". Quando abriu os olhos, viu seu corpo da cor que sempre quis. Não via a hora de aparecer Rosa com glitter no estojo, só pra aquelas exibidas Amarelo e Vermelho morrerem de inveja.

No dia seguinte, na pré-escola, Cinza chegou linda de Rosa. O Azul até passou no apontador para ficar mais elegante para a senhorita Cinza. A Amarelo e a Vermelho logo convidaram a novata para brincar.

A brincadeira era contar quem é o lápis mais usado pela Alice no dia da aula de artes. Na pré-escola, a atividade era desenhar como foi seu feriado. Alice ficou em casa com os pais, porque ameaçou chover e ninguém foi para o parquinho. Seu desenho portanto precisava da Cinza, para as núvens escuras e cheias de gotinhas.

Alice abriu o estojo e começou a procurar a Cinza. Virou os lápis de novo e de novo. Agora de Rosa, Cinza tentava ficar no campo de visão, mas ninguém em sã consciência desenharia uma núvem de rosa. Para ajudar a filha, o senhor Preto auxiliou Alice a fazer uma nuvem escura, bem de levinho.

No final do desenho, estojo fechado e Cinza entrou em pânico. "Meu Deus, como ela não me viu? Eu estava bem na frente dela!". A Amarelo respondeu: "Claro, besta. Agora você está lindíssima de Rosa. Nuvem cor de rosa só se for de algodão doce!".

Cinza percebeu o erro que cometeu. Não precisava ficar bonita para os outros. Precisava ficar pronta para dar o seu melhor quando tivesse chance! Fez uma escolha definitiva na sua vida. Sempre que acordasse, antes de abrir os olhos, desejava: "Eu quero ser cinza, quero ser eu mesma!". No final, Cinza se deu bem. Alice desenhou inúmeras núvens, ratinhos e carros até o final das aulas de artes.

Isso porque ela nem imaginava que quando mais velha, os "50 Tons" mudariam a sua vida.

[Série: Versos de Ciência] Descomplica

Era dia dos namorados. A tarefa do dia na escola era fazer uma carta contando as coias boas de algum colega. Ele sabia muito bem para quem escrever. Ela sempre o deixava feliz. Ele decidiu que esta seria a oportunidade perfeita de contar para ela como se sente.

Ele pensou em temas que fariam sentido para o texto. "Futebol, não. Internet, não. Espaço... espaço? Hum, pode ser. Tem todo o lance da imensidão, tudo muito profundo". E começou a carta:

"Mesmo com bilhões de estrelas..."

"Bilhões? Tem muito mais estrelas do que bilhões". Ele lembrou de um vídeo com um cientista que dizia: "Existem mais estrelas no Universo do que grãos de areia na Terra".

"Bom, definitivamente são bem mais que bilhões", disse ele. E consertou o texto.

"Mesmo com as incontáveis estrelas, galáxias e planetas no Universo. Mesmo com bilhões de pessoas na Terra. Mesmo com milhões de brasileiras com sorrisos bonitos...".

"Ops, melhor mudar esse final. Ela pode achar que eu fico olhando o sorriso das outras e não é verdade", pensou.

"Mesmo com milhões de pessoas no Brasil e as várias alunas da nossa sala, você foi a única que eu gostei de verdade. E eu percebi que, como se você fosse a Terra, a minha vida é como a Lua: orbita ao seu redor".

"Acho que dá pra começar assim, bem direto. Mas ela vai perguntar: 'Por que você se apaixonou por mim com tantas meninas por aí?'. Melhor já responder no texto mesmo".

"Porque só de te ver, as estrelas e planetas que ficavam bagunçados no Universo ficam organizados, como uma grande constelação em uma galáxia".

"Acredito que aqui ela já percebe tudo que eu já fiz de bom. Ela finalmente vai juntar todas as minhas qualidades", imaginou.

"Porque você vai terminar essa carta e entender que em meio a tanta escuridão do espaço, as estrelas continuam se destacando. Porque no final das contas, a nossa turma é o espaço, a sala é a escuridão e você é a estrela que brilha. Digo isso porque meus olhos brilham quando você sorri olhando para mim. Para mostar o quanto eu gosto de você, quero que você fique com a minha nave da Enterprise, meu brinquedo favorito. O problema é que eu esqueci, me lembra de trazer na segunda?".

Depois de finalmente passar a carta a limpo, ele foi entregar.

A sala de aula estava lotada. Mas ele a viu em questão de segundos. Ela o recebeu com um sorriso. Ela pegou o envelope e ao mesmo tempo entregou uma carta. Os dois combinaram de ler ao mesmo tempo. A carta dela era um pouco diferente.

"Você é super legal e inteligente. Sempre vejo você me olhando e fico com vergonha, mas te acho demais. Vamos ver Procurando Nemo juntos?"

E assim, eles sorriram juntos e deram a mão pela primeira vez.

De vez em quando, o complicado se torna muito fácil.
De vez em quando, acontece algo inesperado: o amor descomplica.