quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

[Cinema] Crítica: O Destino de uma Nação - 2018

Vale a pena assistir a um filme apenas por uma atuação? Se depender de Gary Oldman, sim. Joe Wright já está acostumado a dirigir dramas baseados em livros. O britânico já trabalhou em “Anna Karenina”, “Desejo e Reparação” e “Orgulho e Preconceito”. Desta vez, mais um caso: “O Destino de uma Nação”, de Anthony McCarten, que também é roteirista do filme.

O longa se passa em 1940, época em que o exercito de Hitler já havia invadido diversos países europeus e estava pronto para conquistar a Bélgica. Na Grã-Bretanha, o parlamento havia perdido a fé em seu líder, Neville Chamberlain, considerado incapaz de liderar em período de guerra. Viscount Halifax era a escolha mais fácil, mas Winston Churchill (Gary Oldman) era o único membro do partido que tinha apoio da oposição.


Mesmo após um histórico ruim, como a Campanha de Galípoli, também conhecida como Batalha dos Dardanelos, que teve cerca de 25 mil britânicos mortos, Churchill foi o escolhido para o cargo de primeiro-ministro com alguns olhares desconfiados.

O ponto central da história é a dúvida de Churchill entre tentar um tratado de paz com Hitler ou trabalhar na evacuação dos homens de Dunkirk, na operação Dínamo, em que quase 300 mil soldados foram levados para casa pela frota civil.

Além de lidar com a ameaça de Hitler, era preciso controlar seu próprio gabinete de guerra composto pelos seus principais adversários já citados: Neville Chamberlain (Ronald Pickup) e Viscount Halifax (Stephen Dillane).

O recorte histórico acompanha o político desde a preparação dos discursos com a datilógrafa Elisabeth Layton (Lily James) até as suas primeiras decisões na Câmara e os encontros com o Rei George VI (Bem Mendelsomn).

Gary Oldman está completamente transformado como Churchill. A caracterização está incrível e o ator se entrega para o papel. Seu trabalho é perfeito desde o tom de voz, expressões, até a forma de caminhar. Sem exageros, Oldman tem espaço para dar gritos, ordens, murmúrios e olhares de medo. Trata-se de uma pessoa falha, que também tem medos e problemas, o que acaba humanizando a figura do primeiro-ministro.

Além de Churchill, Layton é uma das poucas personagens que consegue um pouco de profundidade, mas apenas por causa da grande carga emocional de passar a maior parte do tempo junto com o político.

Outra personagem que poderia ser mais explorada é Clemmie (Kristin Scott Thomas), mulher de Churchill, que tenta aparar as arestas para o primeiro-ministro não ser tão odiado, mas se transforma apenas em uma conselheira em momentos difíceis.


Com cenas focadas no poder de persuasão e articulação de Churchill, “O Destino de uma Nação” lembra a estrutura de “O Discurso do Rei”, com momentos de preparação para um grande ápice. O filme não chega a apresentar a ação de “Dunkirk”, de Cristopher Nolan, que toca no mesmo tema. O ideal seria ver os dois filmes: enquanto um foca nos bastidores da operação, o outro é direcionado para a ação do resgate dos soldados.

A fotografia do filme é um ponto que merece destaque, misturando pontos muito bem iluminados com sombras. São selecionados em cena pequenos pontos para guiar o olhar do espectador como, por exemplo, o fósforo de Churchill na apresentação a Layton, o ponto de luz central na conversa com o Rei e o jogo de luzes e sombras nas reuniões com o gabinete de guerra.

Se a fotografia e Oldman são pontos positivos, um momento específico, porém, beira o ridículo. Na cena do metrô, Joe Wright tinha diversas maneiras de demonstrar a tentativa de Churchill ouvir o povo, mas a maneira adotada dá até um pouco vergonha alheia. É como se o diretor mostrasse que o povo se importava mais em incentivar Churchill, o grande herói do povo, do que reclamar sobre a maior crise enfrentada na história daquele País.


A aula de história é valida e o questionamento de Churchill segue atual: “Quantos ditadores precisam dominar o mundo para aprendermos com eles?”.

Com muito foco na política interna e no próprio primeiro-ministro, Wright exagera na extensão do filme e peca no ritmo. Fica a impressão que o roteiro tinha potencial para entregar muito mais, porém ficou limitado a dar tempo de tela para Gary Oldman mostrar o seu talento.

Nota (de zero a cinco): 3