terça-feira, 15 de outubro de 2013

[Cinema] Crítica: Gravidade - 2013

Gravidade é um filme que se passa no espaço. Isso já é legal pra caramba. Um dos astronautas é o George Clooney, um ator que dispensa comentários. A outra é a Sandra Bullock, que admito que até pouco tempo não era das minhas atrizes favoritas. O diretor, Alfonso Cuarón, um cara mais conhecido por fazer Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban (2004).  Dá pra pensar que essa mistura resultaria em uma das melhores e mais diferentes experiências que já tive em um cinema?

Quando assisti o trailer pela primeira vez, assistindo Homem de Ferro 3, no ato já sabia que seria um filme diferente. Como o diretor vai sustentar um filme inteiro com uma personagem à deriva, como ele vai lidar com a gravidade e o emocional da personagem? Em meio das muitas perguntas, ficava ansioso pela beleza da Terra vista do espaço e com receio de ver algo como 127 Horas, quando o filme é basicamente um monólogo com flashes do passado e loucuras da cabeça do ator principal.

Longe de dizer que 127 Horas é ruim, mas o que menos gostaria de assistir em um filme que se passa no espaço seriam flashbacks dos personagens na Terra. Esse era o meu medo.

No começo, o papel da astronauta Ryan Stone (interpretada por Sandra Bullock) é consertar o telescópio Hubble com ajuda de Matt Kowalsky (George Clooney), um experiente astronauta que está em seus últimos momentos da sua caminhada espacial.

Rolando um country de leve, com o cenário da Terra no fundo, a imagem é tão bela que demorei um pouco para absorver. Não sei se observo a expressão dos atores dentro do traje espacial, observo a gravidade agindo sob os objetos pendurados ou se fico olhando a beleza da Terra. É até difícil entender que chegamos nesse patamar da computação gráfica.


A história inteira se passa no espaço, sem pesar tanto no passado dos personagens e a história se desenrola rápido. Nada de enrolação. Os russos (sempre eles) mandaram um míssil em um satélite espião e os destroços atingiram outros satélites que atingiram outros, gerando uma reação em cadeia. Quando são avisados que os destroços se aproximam do Hubble, não dá tempo de mais nada.

Sabe aquela história de que o filme deixa as pessoas sem respirar. É a mais pura verdade. São minutos de catástrofes intermináveis e com detalhes impressionantes. Tudo é pensado e cada explosão causa uma outra colisão. É inacreditável a beleza da cena.

No decorrer da história, na deriva no espaço, a atuação de Bullock mostra perfeitamente o completo desespero que qualquer pessoa ficaria nesta situação. Pelo menos uma cinco vezes, o diretor nos coloca na visão de Ryan e o desespero aumenta ainda mais.

São tantas coisas acontecendo que a respiração acaba se tornando uma inimiga graças ao oxigênio limitado. Aos poucos a personagem vai se controlando e tudo vai seguindo o seu rumo.  Ali, naquela situação de risco, Ryan precisa lutar contra o próprio medo e aprender a encarar tudo sozinha.

A qualidade do filme também se deve à excelente trilha sonora. A música nos momentos difíceis ajuda a deixar o clima muito mais tenso. O filme troca constantemente de altura extrema a extremo silêncio, mas com leveza na hora da calmaria.

A parte "calma" do filme possui um pôr-do-sol e uma bela interação entre Matt e Ryan, um dos poucos diálogos dos personagens. Os detalhes nas cenas de construção de história ficam tão evidentes quanto nos acidentes. Para exemplificar isso, em uma cena, um simples alicate batendo na perna da protagonista de fundo bate em um saco plástico que cai em seguida. Não precisava colocar aquele alicate na cena, mas a riqueza nos detalhes pode ser vista em momentos como este.

Outro momento é o das lágrimas da Ryan que voam na gravidade zero. Até aí tudo bem, mas especialmente uma voa em direção à tela, bate na câmera e some. São coisas singelas, mas repito, de beleza e detalhes impressionantes. Sem contar o 3D muito bem utilizado pelo diretor.

James Cameron disse em entrevista à Variety: "É a melhor fotografia espacial já feita, o melhor filme espacial já feito, e é o filme que eu estava ansioso para ver a muito, muito tempo."

Concordo completamente. Todos os diretores de futuros filmes de ficção científica deveriam assistir Gravidade até cansar. O que Avatar foi um novo ponto de partida para o cinema, acredito que com Gravidade, chegamos em um novo ponto. Onde história, computação gráfica e fotografia se unem em perfeição de um belo filme.


Nota (de zero a cinco): 5

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Alerta de Spoilers!

Preciso comentar uma cena, então, se liga com os spoilers e só leia estes próximos parágrafos se você já assistiu ao filme!

O que foi a cena dela tirando o traje aos poucos e "relaxando" após tudo  que aconteceu? Pra mim, a Sandra Bullock ganhou o Oscar nesta cena e na cena que conversa com o chinês que canta uma canção de ninar para o bebê. A primeira sem falas, apenas a atriz ficando quase em posição fetal com os cabos demonstrando um cordão umbilical. Foi o verdadeiro renascimento da doutora.

Que ideia genial do Cuarón. E a segunda cena, o alívio da astronauta em ouvir alguém finalmente falando qualquer coisa, mesmo que não consiga entender... só em ouvir algo que ela conhece, já é o suficiente para acalmar e respirar. A visita de Matt só mostrou que o renascimento é um elemento que Cuarón queria muito transparecer.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

[Games] Crítica: Video Games Live 2013

Os games nunca deixaram de vender. Pelo contrário, o mercado de jogos eletrônicos nunca esteve tão aquecido. Apenas em 2012, a área cresceu 60% em relação ao ano de 2011, colocando o mercado brasileiro como o de maior crescimento em todo o mundo nesta época.

A pirataria também se viu obrigada a reduzir e o Brasil vem mostrando que o mercado de games está cada vez mais sólido no país. Mostrando que o país é a bola da vez no cenário internacional, as empresas investem cada vez mais em jogos localizados para o português, o que coloca nosso país nos próximos anos como o terceiro principal consumidor de games no mundo.

Essa tendência de crescimento apenas coloca em evidência que o público, principalmente os homens de 15 a 35 anos, é consumidor fiel e que não se contenta apenas com a compra e venda de jogos.

Na cidade de São Paulo, os games podem ser considerados mais do que coisa de criança. É um negócio que pode gerar lucro e mais do que tudo, pode garantir diversão e lazer a qualquer momento e em diversos pontos espalhados pela capital.

Atualmente, os próprios games organizam encontros em shoppings ou praças de SP, com o intuito de interatividade nos jogos e na vida real. Não apenas com consoles ou portáteis, mas através de música, filmes ou arte.

Se a qualidade dos já comuns filmes baseados em games é contestada em Hollywood, a música sempre foi motivo de orgulho dos nostálgicos nerds. A trilha sonora, tanto dos jogos antigos de Atari, Super Nintendo ou Mega Drive, quanto os atuais da nova geração, são verdadeiras obras de arte.

E é justamente na relação arte, vídeo game e entretenimento que foi criada a Vídeo Games Live por Tommy Tallarico, o maior compositor de game music do mundo (compôs trilhas para 275 jogos, como Tony Hawk Pro Skater, Spider Man, Earth worm Jim, Unreal, Mortal Kombat, e Time Crisis). Tommy também é o fundador e presidente da Game Áudio Network, organização sem fins lucrativos que tem o objetivo de promover a excelência nas trilhas dos jogos eletrônicos.

Antes mesmo de entrar na casa de shows, o público característico mostrava o amor pelos games, cada um com a sua referência. Com uma touca do Link, um chapéu do Mário, uma camiseta do Mega Man... a entrada virou um verdadeiro show de referências à cultura dos games.

A VGL é um concerto que conta com uma orquestra que apresenta trilhas sonoras memoráveis de dezenas de jogos da antiguidade e da atualidade.

Foto: Diego Bezerra

Pensando em ouvir e viver a nostalgia na sua mais pura essência, compareci na oitava edição do concerto da VGL neste domingo (6), no HSBC Brasil. Na verdade, ganhei um ingresso do irmão de um grande amigo no último minuto, provando que grandes momentos precisam de um pouco de sorte. O show teve presença da Orquestra Sinfônica Villa-Lobos que apresentou coro, solistas, percussionistas e arranjos musicais renovados e com uma qualidade digna de tirar lágrimas de muitos marmanjos barbudos.

O evento conta com competições de Guitar Hero, Super Smash Bros Melee (no qual o meu irmão venceu e recebeu uma camiseta e um DVD do show) e diversas outras formas de interação. Todas as referências da orquestra são ligadas ao mundo do vídeo game e o público retribuía, entendia e dava risada com cada citação.

Foto: Diego Bezerra

Um show de trilha sonora com uma orquestra com o publico sentado em mesas? Nada disso, no começo o próprio Tommy diz que aquele não é um show para observar e absorver e sim para interagir e assobiar ou murmurar aquela sua música favorita.

Além de apresentar músicas de séries clássicas como Chrono Trigger, Final Fantasy, The Legend of Zelda, Mario, Sonic the Hedgehog, Mega Man, Metal Gear Solid e mais vários outros.

Focando na nostalgia, a Vídeo Games Live consegue apresentar música clássica, games, entretenimento, interação e humor em apenas um show impecável de aproximadamente duas horas.


Tenho certeza que a cada música, cada pessoa sentada naquelas mesas se imaginou criança, sentado no chão jogando vídeo game. Quando as preocupações eram saber se o seu jogo estava na locadora ou se alguém tinha excluído o seu save na semana passada. Uma orquestra que te faz voltar à infância. Nada mal para um final de domingo na fria cidade de São Paulo.

Nota (de zero a cinco): 5

terça-feira, 1 de outubro de 2013

[Música] O que vi no fim da MTV Brasil

Aprendi na MTV o que é rock. Aprendi que é preciso respeitar o clássico. Aprendi que Beatles, Led Zeppelin, Rolling Stones e Iron Maiden são lendas intocáveis.
Tive medo dos comerciais bizarros e nonsense.
Vi o clipe de Talk do Coldplay, fazendo eu me apaixonar pela banda.
Conheci The Killers, The Strokes, Arctic Monkeys e minhas bandas favoritas por causa dos clipes. Aprendi que o melhor guitarrista do mundo é o Jimi Hendrix. Tive muito medo do clipe do Marilyn Manson - Tainted Love. Pensei que música boa era aquela bem colocada no Top 10. Aprendi que música bem colocada no Top 10 não significava nada.
Dei muita risada com os Piores Clipes com Marcos Mion, inclusive o épico do Bruce Springsteen - Glory Days.
Ri muito com o Marcos Mion em qualquer programa, inclusive o Descarga, Piores Clipes, Covernation, Mucho Macho e Quinta Categoria.
Chorei de rir com Hermes & Renato, o Boça, a Dona Máxima, o Palhaço Gozo, o Joselito, o Sinhá Boça, o Away e milhares outros.
Conheci a famosa lambida no pescoço com o Gil Brother.
Aprendi a dublar com o Tela Class. Dei muita risada com as lendas Paulo Bonfá e Marco Bianchi. Assisti peladas épicas das bandas nos vários Rockgols e até hoje não lembro o nome da Musa Nissei Sansei e do Chernobil.
Chamei o Nasi de Wolverine Valadão por muito tempo e chorei de rir com as saídas de bola para si mesmo. Aprendi que Birigui, "a Massachussets brasileira",  possui torres gêmeas e a melhor iluminação do mundo.
Repeti: "Marcos Binachi, acabo de ser informado que houve um gol". Repeti: "Dono do Fusca, placa AJT-4245... sua mãe morreu". Aprendi as letras de Swimming Pool e I Love The Flowers.
Aprendi a imitar a Sara e os outros Vjs com o pé no banquinho chamando as músicas dos caras do URRED URROT CHIILLIEEE PEEPPEEERRRS.
Conheci Skank, Capital Inicial, Paralamas e descobri que a música brasileira é tão boa quanto a americana.
Pensei que era fora da lei por assistir os programas proibidos da Penélope. Fiquei puto com os resultados do VMB. Repeti o clássico: Pessoal da Emetevê... Bota essa porra pra funcionar direito! Conheci a Megaliga MTV de VJs Paladinos, a Funérea e o Conrado.
Comecei a perceber que aos poucos eu diminui minha quantidade diária de MTV e achei que era coisa da Idade. Mas percebi com o Adnet, o Bento, a Tatá, o Paulinho, que o humor ainda era o que me conquistava.
Percebi que a música foi ficando de lado. Percebi que a internet ajudou a afundar a MTV.
Conheci as músicas épicas do Comédia MTV.
Nunca vou esquecer das horas de risadas do TecnoBento e do Lado Bom de Ser Gay.
Aprendi que é possível fazer piada com crítica com o clipe de Indiretas Já - Comédia MTV, uma sátira de Roda Viva, do Chico Buarque.
Chorei de rir milhares de vezes com as piadas sem graça da Calabresa e o Bento, no Furo MTV. Aprendi a verdadeira mensagem em mandar desligar a TV e ler um livro. Aprendi que um dia tive que me despedir da MTV. Aprendi a dizer adeus a uma colega que me ensinou o que é música boa, humor diferente e bizarro, a curtir 
rock, a repetir piadas, a AMAR música e querer trabalhar escrevendo críticas musicais no futuro. Aprendi que mesmo não sendo a mesma coisa, não fica um canal, fica uma página da minha infância.
Obrigado MTV Brasil.