sexta-feira, 22 de setembro de 2017

[Música] Crítica: Wonderful Wonderful - The Killers - 2017

“Wonderful Wonderful”, o quinto álbum do The Killers, sem sombra de dúvidas, é o álbum mais experimental até aqui. A sonoridade apresentada pela banda, composta por Brandon Flowers, Dave Keuning, Ronnie Vannucci e Mark Stoermer, pode lembrar por algumas vezes o Everything Now, do Arcade Fire, e tem muitas inspirações no groove do funk e na música disco. O álbum, entretanto, não parece ter um ápice.


Depois de ouvir “Wonderful Wonderful” algumas vezes, é possível encontrar um conjunto de músicas que estão longe de ser ruins, mas não empolgam. Nada com um destaque como uma “Smile Like You Mean It” ou “Mr. Brightside”, por exemplo.

Se a maior qualidade da banda sempre foi as suas apresentações ao vivo, o álbum deve render no máximo umas duas músicas para o setlist, justamente os dois singles, “The Man” e “Run for Cover”. Além disso, destaque apenas para “Rut” e “Tyson Vs Douglas”.

Não é exatamente um ponto de comodismo, principalmente pela louvável busca pelo experimental, porém é uma aceitação de onde o Killers se encontra atualmente. A impressão que fica é de uma banda cansada, ainda mais com o anúncio de que Mark Stoermer e Dave Keuning não participarão da turnê do disco.

A busca pela música perfeita em “Have All The Songs Been Written?”, que finaliza o álbum, sinaliza bem este momento: “I just need one more”. Na busca de uma banda pela novidade e da música que será o próximo single, surgem diversas faixas. Isso pode criar diversos hits ou algo morno, que tinha um bom destino, mas que parou no meio do caminho.


O álbum possui composições que falam sobre depressão, amor, a visão da derrota e da vitória. São diversas citações: Springsteen, Graceland, McCartney, Jesus, Mike Tyson, entre outros. Inclusive uma misteriosa participação de Woody Harrelson em “The Calling”.

Trata-se de uma seleção daquelas músicas que o fã vai gostar, mas não vai ligar se elas nunca forem tocadas nos shows. Com a discografia que o Killers tem, “Wonderful Wonderful” não é um estranho no ninho, mas não acrescenta muito. Tem identidade e apesar de ter qualidade, a própria discografia do Killers nos deixou mal-acostumados.

Nota (de zero a cinco): 3

quinta-feira, 14 de setembro de 2017

[Cinema] Crítica: It: A Coisa – 2017

Uma das maiores dificuldades dos filmes de terror nos últimos anos é a dificuldade para o desenvolvimento dos personagens, jogando jump scares a torto e a direito, sem ao menos se dar ao trabalho de criar uma atmosfera. IT realiza estes pontos com maestria. Para começar, o filme não pode ser tratado apenas como terror. Também é aventura, romance, suspense e comédia.

Inspirado no livro de Stephen King e ambientado no final dos anos 80, IT conta a história de um grupo de amigos que formam o auto-intitulado “Losers Club” – o clube dos perdedores – que decidem investigar o desaparecimento de crianças na cidade de Derry, no Maine, EUA. O culpado é um palhaço chamado Pennywise.


O diretor argentino Andy Muschietti, já habituado ao terror após a realização de “Mama”, conseguiu criar uma atmosfera pesada desde o primeiro momento em que o palhaço aparece, um trabalho fantástico de Bill Skarsgård. A cena de abertura apresenta como o palhaço realiza a captura das crianças e já faz o espectador segurar mais forte no braço da poltrona do cinema. A trilha sonora de Benjamin Wallfisch, que já tinha trabalhado em filmes de terror como “Quando As Luzes Se Apagam” e “Annabelle 2”, ajuda ainda mais na imersão.

O trabalho de casting foi perfeito com as sete crianças protagonistas. Com uma estética claramente inspirada em “Clube dos Cinco” e outros milhares de filmes dos anos 80 e 90, o roteiro apresenta aos poucos o medo de cada um. O tempo de tela dos garotos é suficiente para criar uma empatia por todos. Entre as crianças, o destaque é de Finn Wolfhard, de “Stranger Things”, uma ótima escolha para o alívio cômico.


Os medos das crianças são o principal ponto para o roteiro: o bullying dos alunos mais velhos, do pai autoritário, de não ter amigos, da intolerância religiosa, do abuso sexual, das mentiras contadas pelas outras pessoas ou da proteção excessiva materna, Pennywise provoca cada criança com o seu maior pavor. Não é preciso explicar como ele surgiu. O palhaço é uma força do mal, que se alimenta desses medos das crianças. São elas que precisam se unir se quiserem sobreviver. Os diversos momentos com câmera subjetiva e close-up no olhar e sorriso tenebrosos do palhaço aumentam a tensão.

Tudo em Pennywise assusta, desde a fala gutural e as transformações em outros medos, até a forma bizarra de segurar os balões com a ponta dos dedos e a maneira de avançar sobre as crianças. O jump scare acontece, mas não fica apenas restrito ao pico da trilha sonora. Não é aquele sentimento de se assustar por nada, com a batida de uma porta. O ambiente é criado para depois assustar.


James Wan, diretor de “Jogos Mortais” e “Inovação do Mal”, afirmou em uma entrevista para a IndieWire no ano passado que os filmes de terror precisam ter cenas específicas boas o suficiente para as pessoas comentarem no dia seguinte em uma conversa no trabalho.

Os elogios a IT não são da boca para fora. Chama a atenção flutuando sobre todos os outros filmes do ano.

Nota (de zero a cinco): 5