quarta-feira, 9 de maio de 2018

[Música] Crítica: Tranquility Base Hotel & Casino - Arctic Monkeys - 2018

Foram cinco anos sem um álbum novo do Arctic Monkeys. Desde “Whatever People Say I Am, That’s What I’m Not” (2006), a banda tinha costume de divulgar material inédito em um intervalo de até dois anos. O último que manteve essa regra foi o elogiado “AM” (2013). Talvez por isso o lançamento de “Tranquility Base Hotel & Casino”, o sexto álbum dos britânicos, Alex Turner, Jamie Cook, Nick O’Malley e Matt Helders, fosse tão esperado.


Base de Tranquilidade é o local do primeiro pouso lunar. Essa informação já apresenta um pouco sobre o que está por vir. Este é o álbum mais diferente que os fãs da banda poderiam imaginar: bases de piano em todas as músicas e pouquíssima guitarra.

Tão diferente que foi discutido se este álbum seria um solo de Alex Turner ou um lançamento da banda, de acordo com o jornal The Independent.

Em relação às letras, Turner conversa sozinho durante todas as faixas. O mesmo compôs todas as músicas, o que deve ter influenciado nas principais decisões do disco: o piano como protagonista e a temática de ficção científica. As composições contam sobre o futuro tecnológico e a alteração de comportamento das pessoas com a era da informação.

Não soltar singles foi uma ótima decisão por não expor essa temática que permeia por todo o disco. É um disco do Arctic Monkeys com uma pegada de Nina Simone e David Bowie.

“Star Treatment”, a primeira faixa do disco começa com a frase “Eu só queria ser um dos Strokes/Agora veja a bagunça que você me fez fazer”. Este é um Alex Turner olhando pra trás, buscando suas referências por meio da televisão, anos 70, cassinos e cinema.

Na faixa-título, Alex questiona: “Você se lembra de onde tudo deu errado?” Os avanços tecnológicos ajudam ou só criam novas perguntas? “Golden Trunks” me lembrou de uma mistura entre “Mad Sounds” e “I Wanna Be Yours”, mas tem muito da inspiração do brasileiro Lô Borges em “Aos Barões”, como o próprio Alex afirmou em entrevista para a MOJO Magazine. A faixa tem um riff hipnotizante e um excelente trabalho de backing vocal.

                  

“Four Out of Five” começa como uma legítima música do Arctic Monkeys e vai se modificando. Creio que fossem selecionados singles, essa seria uma fácil escolha por ser de mais próxima da sonoridade da banda.

A ficção científica se faz presente nas faixas “Science Fiction” (óbvio) e “She Looks Like Fun”. A primeira é inspirada em “O Mundo por um Fio”, do diretor alemão Rainer Werner Fassbinder. Já a segunda apresenta essa pessoa “She” como a própria internet e demonstra como as pessoas podem ser insuportáveis ao expressar suas opiniões de forma anônima. “Ninguém está nas ruas/Nós mudamos para o online”.

Por último, “The Ultracheese” lança um olhar sobre o passado sem a internet. Em uma época em que as fotos que as pessoas tiravam com amigos eram reveladas e enquadradas na parede e não nas redes sociais. E que uma batida na porta não assustava, era apenas uma visita.

Pode ser estranho no início, mas quanto mais cedo você compreende qual é o tipo de sonoridade nas 11 faixas, melhor será sua experiência. Acostume-se às notas altas de piano e alguns sintetizadores. A guitarra é tímida mesmo, mas a linha de baixo ganha destaque.

Este não é um álbum que as pessoas vão cantar em estádios e grandes arenas. A banda segue para um lado que foge do seu padrão e busca inovação, mas sem deixar a qualidade de lado. A capacidade de criação continua a mesma. Seja um solo do Alex Turner ou um álbum mais experimental do Arctic Monkeys, o que importa é que “Tranquility Base Hotel & Casino” é uma experiência inesperada e muito bem executada.

Nota (de zero a cinco): 5