sábado, 9 de abril de 2016

[Música] Crítica: "A Head Full of Dreams Tour" - Coldplay - 2016

Seis anos depois, o Coldplay voltou para São Paulo. Era o Morumbi, era 2010, era a Era Viva. Três álbuns depois, a sonoridade da banda mudou, mas não deixa de ter a mesma essência. Os fãs abraçaram as músicas mais agitadas com o mesmo interesse daquelas de “Parachutes” e “A Rush”.

Meses antes do show, as reclamações já começaram. Os ingressos acabaram em questão de um dia. Evitei comprar pela internet por causa da alta taxa de conveniência. Tentei acordar cedo para comprar presencialmente, mas a fila já estava gigante e tudo esgotou muito rápido.

Para o meu caso, restou aguardar com paciência para comprar um ingresso da pista no mesmo dia do show com uma moça que o pai desistiu de ir. Cheguei ao Allianz Parque cerca de 18h40. Na entrada, todos recebem a sua Xyloband e um bottom da Global Citizen, parceira que a banda apoia. Pulseira apertada, bottom  na camisa e começo a tentar me aproximar mais do palco. 


A “A Head Full of Dreams Tour” possui uma estrutura que conta com três palcos. O principal, um entre a pista premium e a comum, e outro no lado esquerdo do palco. Assim, até aquele que ficou na arquibancada consegue ver a banda de pertinho. Na pista, já existiam diversas pessoas sentadas apenas aguardando a entrada das bandas de abertura. A primeira foi Tiê, com uma rápida e tímida apresentação. A música é boa, mas sem inspiração para aquecer o público.

Depois, Lianne La Havas, cantora britânica em ascensão, cantou por mais tempo. Simpática, La Havas mostrou que realmente é considerada uma promessa. Tem um timbre bonito e seus dedilhados na guitarra apresentam uma fina mistura de influências na bossa nova e um R&B caprichado. Entretanto, o show foi longo demais e o público já estava cansado de tanto aguardar. Fim de show, 21h30, chegou a hora do Coldplay.


A entrada de Chris, Jonny, Guy e Will é apoteótica. A abertura com “A Head Full of Dreams” deixa o público em dúvida se olha para a própria Xyloband, se olha para a beleza das luzes na Arena, se canta com a banda ou se fica admirando aqueles quatro integrantes que vieram tão de longe, desta vez tão de pertinho.

Como o álbum é novo e algumas pessoas poderiam não ter a letra na ponta da língua, “Yellow” já coloca todo mundo no mesmo patamar. “Look at the stars” com um céu aberto e cheio de estrelas. “Every Teardrop is a Waterfall” manteve o clima no alto, que só diminuiu com “The Scientist” cantado da forma mais alta possível por praticamente todos os presentes. Depois de “Birds” e “Paradise”, a banda foi para o palco do meio da pista.


Para o palco menor, canções mais intimistas como “Everglow”, “Ink” (que foi tocada pela primeira vez na nova tour) e “Magic”. Todos muito receptivos, com Chris tentando falar português, dançando daquele jeito bizarro e Jonny, Guy e Will mostrando como a banda cresce tocando ao vivo. Na volta para o palco principal, “Clocks + Midnight”, “Charlie Brown” e “Hymn for the Weekend”. Apesar da criação em momentos diferentes da banda, as novatas agradam como se fossem um grande clássico como "Clocks" .

Mesmo assistindo no show em 2010 e visualizando mil vezes no Youtube, a sensação de ver o hino "Fix You" ao vivo é algo de outro mundo. Se você é um daqueles que se arrepia com o solo de guitarra, ao vivo não tem nem comparação. Ainda sobra tempo para homenagear David Bowie com uma versão curta de um cover de “Heroes". “Viva la Vida” continua grandiosa, assim como em 2010. O mesmo coro do meio da música continua uma parte da identidade da banda e é repetido pelo público diversas vezes durante todo o evento.

“Adventure of a Lifetime” me impressionou demais. Ao vivo ela funciona muito bem, na ponta da língua da maioria e colocou a galera pra pular. Sem contar com as bolas infláveis coloridas para enfeitar mais ainda o cenário. 


Após mais uma mudança de palco, desta vez mais próximos da arquibancada, a banda surpreendeu os fãs mais antigos com “Trouble” e “Speed of Sound”, sendo que a segunda foi a música escolhida pelo público paulistano no Instagram.


A última sequência, de volta ao palco principal, contou com "Amazing Day" (com mais um lindo coro no meio da música), “A Sky Full of Stars” (com direito a interrupção para singelos pedidos de casamento no palco com a ajuda do “padre” Chris) e “Up&Up” para encerrar. A última música é imponente, tem um ótimo refrão, é boa para cantar e tem solos de guitarra incríveis. 

Para aumentar mais ainda a pirotecnia, que neste ponto estava no limite com laser rasgando a Arena e as Xylobands piscando loucamente, ainda houve uma tímida queima de fogos e o tradicional agradecimento da banda.


O jogo de luzes é definitivamente o carro-chefe da turnê. As novas músicas foram muito bem executadas ao vivo apesar dos poucos shows da turnê. A banda tem repertório para um show maior, mas foi suficiente para deixar todos satisfeitos. A simpatia que a banda transmite também influencia, já que eles parecem tão felizes quanto o público. As surpresas do dia foram “Ink” e “Trouble”, que ninguém esperava. As faltas sentidas foram “Shiver” e “In My Place”.

A impressão é que a banda não para de crescer. Um bom exemplo são os ingressos que evaporaram nas vendas. Ela também cresceu com mais produção, mais intensidade ao vivo e ainda mais interação com o público. Deixei a Arena com um sorriso no rosto, assim como todas as pessoas que assistiram o espetáculo. As luzes, o papel picado, os palcos, a música e o clima criado, mostram que este não é apenas um show para ver os seus ídolos de perto. É feito para você sentir que você realmente é parte daquilo tudo. Resta um misto de anestesia pós-show e vontade de ter aquele momento de volta. Que este momento volte logo e que não demore mais seis anos, por favor. 

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

[Série: Versos de Ciência] A gravidade voluntária

E se a gravidade fosse voluntária?
Assim como quando lembramos que precisamos respirar.
Ou quando percebemos como é estranho forçar algo simples como uma piscada.
Quando esquecemos de ficar no modo automático, tudo fica mais real.

Quando tiramos o fone com a música alta e reparamos no barulho do tênis tocando o chão.
Quando lembramos como é relaxante sair de casa de chinelos e bermuda.
Como quando lembramos de finalmente resolver algo simples.
Como lembrar de pegar a tampa da caneta da sala que ficou na gaveta do seu trabalho.

E se esquecêssemos como a gravidade funciona?
Se fosse apenas uma questão de entendimento geral, uma regra.
A negação da gravidade acabaria com o sentido de peso.
E criaria um mundo onde balões de hélio flutuariam normalmente ao lado das rochas.

Onde a altura é mera questão de alcance.
E sonhar alto é só questão de esperança.
Como se jogar no chão e errar era voar para Adams.
Saltar pode ser um empurrão para o infinito.