quinta-feira, 29 de maio de 2014

[Música] Crítica: Ghost Stories - Coldplay - 2014

O Coldplay acaba de lançar seu sexto álbum, Ghost Stories.


Antes de falar sobre ele, é legal falar sobre qual a fase que a banda passa. Depois de viver um desejo inacabável por inovações e com o auxílio de Brian Eno, Viva la Vida or Death and All His Friends chegou com toda a pose de mudanças, mas na medida certa.

A sonoridade ficava distante daquela vista em X&Y. Depois, chegou Mylo Xyloto, o álbum tão contestado pelos fãs. A distância da banda que se lançou com Parachutes é gigante. O uso exagerado de sintetizadores e o som claramente puxado para o pop (para ficar bem claro, a banda fez uma parceria com a Rihanna. Acho que isso explica toda a fase ruim). Apesar de todos os deslizes e exageros, ainda dá pra encontrar aquele velho Coldplay, com Us Against The World, Don't Let It Break Your Heart e Hurts Like Heaven.

Nessa fase MX, tudo mudou, inclusive o vestuário. Roupas coloridas, Xylobands nos shows e mais um suposto (todo final de álbum, o Chris Martin fala isso) tempo para descansar da banda. Na preparação para o novo disco, o colorido sumiu aos poucos, a seriedade voltou ao recinto e esperança de dias melhores. Essa era a expectativa, a de retorno de sonoridade. Esse era o cenário que o Coldplay tinha quando lançou Ghost Stories. Sobre cada música:

Always In My Head

O começo com o coral e a bela melodia já me ganhou antes do Chris começar a cantar. Gosto muito da levada da guitarra na música e tem um refrão legal. Ótima pra começar o álbum.

Magic

O baixo do Guy é o protagonista aqui. A música com um pé no R&B tem um refrão delicioso. Tudo bem leve e aumentando de proporção aos poucos. Foi uma boa escolha pra single.

Ink

O começo foi meio estranho, com uma sensação de "Que diabos de instrumento é esse?". Mais uma música bem leve e que me apaixono pelo refrão de primeira. 

True Love

Já gostei dos violinos de fundo logo no início. A bateria elétrica me irrita, pois é desnecessária. O refrão é um tanto quanto pegajoso. Aqui dá pra lembrar daquela sonoridade pedida dos álbuns antigos. E finalmente escuto alguma coisa diferente e um rápido solo na guitarra do Jonny. 

Midnight

É a que mais destoa do álbum. Na primeira vez que ouvi, duvidei que era realmente Coldplay. Sabe aquele lance de inovar? Nesta música deram uma bicuda em todos os trabalhos antigos e lançaram uma música ainda não vista com a banda. Não é ruim. Mas pra quem está acostumado a ter o piano e a melodia como a grande qualidade, não dá pra usar tanta distorção na voz e batidas eletrônicas. Ainda assim consegue ter suas qualidades. Termino a música imaginando como seria se ela fosse mais limpa, sem distorção e tanta coisa junta. Acho que ficaria bem melhor.

Another's Arms

O belo coral que inicia a música me deixa mais aliviado após tanta distorção na voz da música anterior. A música vai aumentando, aumentando... e quando chega a hora de um puta solo de guitarra... o instrumento soa completamente abafado. É estranho, parece que a banda não quer um momento de destaque no álbum. Tudo por enquanto é sim, muito bom. Mas não tem um clímax. Tudo é completamente uniforme. Mesma pegada light de Ink e Always In My Head.

Oceans

Finalmente um destaque! Sem a batida eletrônica como prioridade, o bom e velho violão característico de Parachutes está de volta. Me lembra muito Sparks ou até mesmo Green Eyes. O final com violinos é sensacional. Não é difícil agradar os fãs, sério. Violão, voz e uma boa melodia, não tem o que complicar. Os segundos finais levam a um som de porto, com ondas, sinos e toda uma criação de... Oceans.

A Sky Full of Stars

Pra acabar com toda a minha explicação sobre simplicidade citada acima, nos 10 segundos já é possível prever a música inteira. Justamente na música com o nome mais interessante, a faixa conta com a também desnecessária colaboração do DJ Avicii. A música é claramente diferente de todo o álbum. Apesar de fugir de tudo o que eu gosto em música, no meio das batidas eletrônicas ainda dá pra encontrar a diferença das outras milhares de música eletrônicas iguais. Não sou dos maiores fãs de música eletrônica justamente por essa coisa fácil de prever. Um começo normal, uma queda e uma explosão no final. Vai fazer um puta sucesso sem dúvidas e provavelmente eu vou curtir pra caramba no show. A música é boa no cenário onde ela mesma se coloca. Mas no meio do disco ela acaba sobrando.

O / Fly On

Fico imaginando antes de dar play em como uma música de sucesso pode ter apenas uma letra, "O". Mas ao começar, fico surpreso com um piano sensacional. Particularmente, a letra é linda e simples. Fico pensando em como um tema simples e as palavras certas podem juntar dois temas tão distantes. Juntar a liberdade dos pássaros com uma situação de partida. Uma hora ele está aqui e logo já voou para longe. Enfim, a melodia é incrível e a letra me fez pensar. Lembro mais uma vez porque continuo gostando de verdade desta banda.

(As próximas três faixas fazem parte apenas da versão Deluxe)

All Your Friends

Uma linha de baixo ótima e uma pegada muito parecida com Cemeteries of London da era Viva. Não entendo porque não entrou na versão original. É meio sombria. Dá realmente pra perceber a banda inteira por aqui e dá para lembrar que o Coldplay é muito melhor quando todos recebem destaque.

Ghost Story

Uma das melhores do álbum. A letra é incrível e sem querer sem repetitivo, mas já sendo, lembra muito a era de A Rush of Blood to the Head. É um pecado estar apenas na versão Deluxe. Tem um solo bem legal, tudo foge daquela coisa light do começo do álbum, o refrão é muito bom... uma das minhas preferidas nos últimos anos de Coldplay.

O (Part 2/Reprise)

Muito bonita pra encerrar o álbum. Encerra exatamente como começou. Aliás, todas as músicas terminam de forma muito próxima do começo da próxima. Assim, o final de uma encaixa no início da próxima. O álbum ganha em continuidade e em tese, fica meio que infinito se ficar no repeat, bem legal.

Avaliação final

É um ótimo álbum. Melhor do que o último, Mylo Xyloto. Sinto falta de um momento memorável, um destaque. As letras são em grande parte marcadas pelo fim do relacionamento de Chris Martin com sua esposa Gwyneth Paltrow. Não é um dos álbuns mais inspirados em relação a letras. O álbum é bom pra escutar inteiro, em sequência.

A continuidade aumenta a qualidade do Ghost Stories. Se colocadas separadamente, na minha opinião, são poucas que funcionariam como single atualmente. Midnight e A Sky Full of Stars fogem da linha sonora do álbum. Senti falta da presença e do destaque dos outros membros da banda. Como estão dizendo por aí, realmente soa como um álbum solo do Chris Martin. O que também, obviamente, não é uma coisa ruim.
8
Para o próximo álbum, gostaria muito de ver algo mais alto. Não digo no sentido de músicas de estádio, mas com mais solos de guitarra ou algo um pouco mais como Ghost Story ou Politik, do A Rush. Avalio como um ótimo álbum, mas ainda com o sentimento que dá para melhorar um pouco mais. Eu sei, gosto é gosto e talvez, nunca fique completamente satisfeito. Mas sinto que esse foi um bom começo para algo ainda maior para o futuro.

Melhores faixas: Always In My Head, Ink, Oceans e O.
Piores faixas: Midnight.

Nota (de zero a cinco): 4

sábado, 10 de maio de 2014

[Série: Versos de Ciência] Lucas, um telescópio e a imensidão

Quando criança, Lucas sentia-se pequeno. Os outros alunos da sua classe sempre foram maiores que ele. Seu pai sempre dizia que com o tempo ele cresceria e perceberia que esse seria o menor dos problemas que ele encontraria na vida. O menor. Até na lição de moral, os sinônimos de pequeno apareciam.

Quando jogava vídeo game, escolhia o Mario, menor que o Luigi. Quando jogava futebol e queria ser goleiro foi aconselhado a não ficar na posição, afinal era só chutar alto que era gol.

Era besteira para os outros, mas um problema pequeno não deixa de ser um problema. Para resolver isso, o pai de Lucas comprou um tênis com a sola maior. Não ajudou muita coisa, mas deixou o garoto com um sorriso no rosto.

Depois falaram pra ele pular corda, porque dizem que a prática faz a pessoa crescer. Após três dias de dores nas pernas, Lucas abandonou a corda: ela era muito curta e batia na canela dele.

A altura, porém não media quanto o garoto queria crescer e ver o mundo. Crescer no sentido de amadurecer e de centímetros também.

Na adolescência, conheceu enfim uma garota do seu tamanho. Após um tempo foi rejeitado, pois a menina era louca por salto alto... que azar.

Triste com o fim do seu relacionamento e com aquele pequeno probleminha de infância que não passava, Lucas passou a ficar preso no seu quarto. Os pais acharam que o menino estava com depressão. A mãe afirmou que sabe exatamente o que o filho precisa para deixar de sentir-se pequeno de uma vez por todas.

Ela saiu de casa e voltou algumas horas depois com uma embalagem gigantesca. Bateu na porta do quarto de Lucas, que logo atendeu.

Surpreso pelo presente repentino, desembrulhou e viu um telescópio. Perguntou para a mãe como isso ajudaria a resolver seu problema. E ela respondeu: "Aponte pro céu, tente contar as estrelas e você vai entender".

Ele instalou o telescópio, apontou para o céu e aos poucos começou a entender. Passou a madrugada inteira olhando as crateras da Lua, os satélites de Vênus e os anéis de Saturno.

Lucas entendeu que não tem como contar as estrelas, não tem como observar extraterrestres na Lua e que não tem como medir a distância até Marte.

Comparados com a imensidão do Universo, Lucas entendeu que todos somos iguais e que não são alguns centímetros de altura que vão fazer a diferença neste mundo. E então ele entendeu tudo. Ninguém pode falar que você é pequeno.

Lucas é pequeno. Os adultos, o tênis, o salto alto da menina, os prédios, a Terra e a nossa galáxia são pequenos perto de tudo que acontece ao nosso redor. 

Só em ter a oportunidade de fazer parte de todo o acontecimento ao nosso redor já é gratificante. É assustador a primeira vez que percebemos a dimensão do Universo.

Lucas guardou o telescópio e foi dormir.

Naquele momento, ninguém era maior que ele.
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Crônica baseada nos versos da música Telescope do Cage The Elephant.

sábado, 3 de maio de 2014

[Cinema] Mundo mágico de Walt Disney

Fundado em 16 de outubro de 1923, o Walt Disney Animation Studios é reconhecido até hoje como o principal estúdio de animação americano e é visto como pioneiro no desenvolvimento de técnicas que se tornaram essenciais para a produção da animação tradicional. A história começa quando a empresa passa a produzir filmes a partir de 1934.

Tradicional logo do estúdio de animação americano

Considerado o primeiro dos Clássicos Disney, o estúdio lança totalmente a cores "Branca de Neve e os Sete Anões", em 1937. O lançamento é também o primeiro longa-metragem de animação produzido pelo cinema norte-americano e com produção do lendário Walt Disney.

A inovação resiste a um cinema em plenos anos 30, quando os filmes históricos, de gansters e a ficção científica dominavam as telonas.

Com o intuito de transformar seus filmes em inesquecíveis películas, Walt Disney era conhecido pela vontade de entregar o melhor do estúdio em seus filmes. Com a invenção da câmera multiplano, Walt conseguiu adicionar a sensação tridimensional, colocando profundidade em seus desenhos animados por meio de camadas de imagens de fundo pintadas sobre vidros.

Câmera multiplano colocou sensação de profundidade nas animações

A técnica foi apurada e utilizada nos próximos lançamentos do estúdio. Walt Disney sempre foi entusiasta de inovações e a empresa criada por ele ainda é líder em tecnologias que ajudam a criar histórias de novas e diferentes maneiras. Como por exemplo Fantasia, filme que dá atenção à música clássica e que mudou perspectivas de canções em uma obra cinematográfica.

A criação de Mickey Mouse, Pato Donald, Pateta e diversos outros personagens deixou claro como é importante a construção de um personagem para contar uma boa história e manter a fidelidade do público.

Porém, após a morte de Walt Disney em 1966, vítima de um câncer no pulmão, o Walt Disney Animation Studios passou por tempos difíceis nos anos 70 e 80. O cineasta era a imagem da empresa e os próximos filmes lançados perderam a identidade de inovação com história inspiradora.

Bernardo e Bianca, O Cão e a Raposa, O Caldeirão Mágico, As Peripécias do Ratinho Detetive e Oliver e sua Turma não foram aclamados pela crítica ou pelo público, que passou a olhar o estúdio com outros olhos.

O "renascimento" da Disney chegou apenas a partir dos anos 90, quando a empresa voltou a fazer animações baseadas em histórias clássicas como A Pequena Sereia, Bela e a Fera, Aladdin e O Rei Leão, considerado por muitas a obra prima da Disney.

Rei Leão foi lançado em 1994

A partir dos anos 2000, a Disney finalmente encontrou um rival a altura. Os estúdios Pixar, que com a trilogia Toy Story, Monstros S.A., Procurando Nemo, Os Incríveis, Wall-E e Up - Altas Aventuras dominou as premiações da década. O estúdio demorou para se adaptar com a mudança para o 3D digital. O primeiro filme da Disney com o sistema foi O Galinho Chicken Little.

Essa era também teve um fim, quando a Disney comprou a Pixar em 2006 por US$ 7,4 bilhões. Após a fusão, o estúdio voltou a ser dirigido por um animador,  fator visto como essencial para a nova escalada da Disney, que não tinha um animador no cargo desde a morte de Walt Disney.

John Lasseter é um dos responsáveis pela virada de mesa da Disney

O retorno da Disney ao devido posto foi após o lançamento de "A Princesa e o Sapo", com a animação "Enrolados", filme trouxe de volta a comédia musical após cerca de 20 anos e concretizou o sucesso do último filme do estúdio, Frozen - Uma Aventura Congelante, adaptação do conto de fadas "A Rainha da Neve".

Enfoque no musical chamou a atenção em Frozen

O estúdio optou por voltar às origens para recomeçar a era de ouro. A ideia criada por Walt Disney com a ajuda da sua equipe em 1934, é mais do que o simples lançamento de filmes de animações. É um universo de referências, personagens notáveis, inovações e inspirações para as crianças de diversas gerações.

Com ou sem seu criador, com altos e baixos, o lema da Disney sempre foi "Continue seguindo em frente". Porque Walt Disney mostrou a todos que além de prêmios, um trabalho dedicado pode construir um império na cultura pop.