quarta-feira, 19 de abril de 2017

[Cinema] A publicidade nos trailers e o cinema #ad

Muito tempo após a exibição de um trecho de The Adventures of Kathlyn antes de um filme (104 anos para ser exato), os trailers continuam em constante evolução. Atualmente, o investimento em publicidade é muito superior ao valor direcionado para a produção de um filme. Já sabemos há tempos que a publicidade faz parte do cinema. Mas o que acontece quando a publicidade atrapalha a experiência?

Se por um lado o trailer deve apresentar a sinopse do filme, por outro os criadores devem focar também na publicidade, responsável por instigar o espectador a comprar os ingressos. Claro que o dinheiro move a indústria, mas a estratégia de marketing não deve adiantar detalhes que estão além da sinopse. Sem dúvida, as redes sociais têm a sua parcela de culpa nesta questão.

Os fãs, sedentos por qualquer novidade, começam a receber os primeiros pôsteres na Comic Con. Semanas depois, surge um teaser misterioso de cinco segundos com a data do trailer. Depois da divulgação, os sites de entretenimento começam a dissecar cada cena, prevendo possibilidades que aquele mísero frame pode desencadear. Surge então o trailer europeu, o trailer do Japão. O trailer final uma semana antes do lançamento. As críticas começam a bombar após o embargo e as primeiras impressões aparecem. A ação de marketing nos pontos de ônibus. Os pôsteres que você vê até chegar na sala do cinema.

Veja bem, não é questão de fingir uma nostalgia, mas caramba, que saudade quando as pessoas ficavam sabendo de um filme no cinema.

A divulgação, que antigamente era de apenas um trailer, dava um aperitivo. Agora você já sabe o cardápio completo antes mesmo de sentar à mesa. Um bom exemplo é o filme O Exterminador do Futuro: Gênesis, lançado em julho de 2015. Apenas no trailer, é fácil perceber que John Connor se tornará o vilão. No lançamento de Vingadores: Era de Ultron, era quase impossível ver as redes sociais sem ler algum comentário sobre o vazamento da cena da luta entre Hulk e o Homem de Ferro com a Hulkbuster.

Entretanto, ainda existem bons exemplos. O teaser de Homem-Formiga na escala de uma formiga foi uma excelente ideia.


Outro teaser que chamou a atenção foi o de 
Kingsman: The Golden Circle. A imagem acelerada é uma prévia do mesmo trailer que será lançado nos próximos dias. Diz muito sobre a ação frenética que os fãs viram no primeiro filme e aguardam na continuação.


Voltando a falar sobre o investimento, de acordo com o artigo Trailer: Cinema e Publicidade em um só Produto, de Maíra Justo, o custo médio para produzir um trailer no Brasil é de R$ 30 mil. Já em Hollywood, pode chegar a mais de R$ 800 mil. Obviamente, o lucro rende a continuação que o estúdio sempre sonhou. Quem sabe uma trilogia. Se está dando certo assim, para que mudar?

Isso precisa mudar por causa da surpresa. Precisa mudar por causa da necessidade de ver algo que você não espera. Isso também faz o cinema. Para ficar claro: não sou contra o trailer, sou contra o excesso de divulgação.
Consumindo tudo, você não vai se surpreender com um filme. Afinal, o que você esperava, você já viu há alguns meses em uma tela minúscula durante o almoço.

Independente da recepção do filme, a produtora utiliza essa divulgação como uma cortina de fumaça. Cria o hype e faz as pessoas esquecerem que a matéria-prima também é o produto principal que vai ser consumido. Se for ruim, é porque alguém contou demais. Este excesso de exposição contrapõe a arte.