sábado, 20 de setembro de 2014

[Poema] O terror do amor

Quando chego, o clima se transforma
Quando falo, você não escuta
Quando sente minha presença, pareço assombração
Quando te surpreendo, pareço um fenômeno

Quando percebe, é sobrenatural
Quando levo, é para o além
Quando faço o novo, é causa de arrepios
Quando você decide ver e acreditar, eu apareço

Não, não é amor.
É só mais um caso de fantasma não correspondido.

[Outros] Pequenas escolhas

O rotina pode ser chata, mas é lotada de pequenas escolhas

Quando você sente que não foi um bom dia de trabalho
Ou lembra que vive reclamando pra sair da rotina

Quando você pensa que estudar algo que não vai usar é estúpido
Ou lembrar que estudar é só um atalho para o seu futuro

Pensar que já se passaram 20 anos
Ou que só foram 20 anos

Pensar que você já fez muita coisa sem ser reconhecido
Ou lembrar daquele dia em que você foi elogiado de surpresa

Pensar que é livre, mas não pode faltar no trabalho
Ou lembrar que você é livre para escolher seu caminho até ele

Lembrar que você não controla o sentimento de ninguém
Ou saber que pequenos gestos podem mudar toda uma concepção

Fazer um super contrato que tem curto prazo
Ou fazer o seu melhor até o final

Saber que eu posso passar despercebido
Ou saber que tem alguém que sempre esteve olhando para você

Lembrar que o que está errado pode não ser justo
Ou lembrar que posso tranformar o errado em certo

Esperar seis meses para falar uma frase de dez segundos
Ou ser sincero e receber logo uma resposta

O sonho de uma profissão que ganha pouco
Ou o orgulho ao ver um nome em um jornal

Conversar com quem você gosta sem receber atenção
Ou receber um olhar atento em uma conversa a toa

Quando criança ter grandes sonhos
Todos sabemos que são as pequenas decisões que vão torná-los realidade.

Os momentos de escolha definitivamente são as pontes dos grandes sonhos.

sábado, 6 de setembro de 2014

[Crônica] A imaginação de Sofia

Morando em uma favela do Rio de Janeiro, tudo o que uma menina de oito anos podia fazer, enquanto a polícia e os traficantes trocavam tiros, era ficar paralisada de medo.

Sem conseguir sair de casa, a pequena Sofia ficava aflita com os barulhos das armas, gritos e tensão. Quando Marina, a mãe da garota, ouvia os tiros, sua primeira reação era se esconder com a filha.

Enquanto os tiros se intensificavam no morro, Sofia e Marina sentavam dentro do armário, em um outro mundo. Neste, Marina era a rainha do castelo e o barulho dos tiros eram fogos e cornetas, que avisam o povo que a princesa Sofia iria se casar. O príncipe era o boneco Ken, um dos brinquedos preferidos da menina.

A coroa era um cabide retorcido feito por Marina. Segundo a mãe da garota, a viagem para o reino encantado só era possível com muita concentração e se a Sofia fechasse bem os olhos. Neste mundo, a fantasia tornava-se real e a realidade virava ficção.

~

Dizem que as crianças precisam enfrentar a vida com bravura desde pequenos. Mas uma dose de imaginação é saudável para qualquer idade. Fazendo bastante silêncio de olhos bem fechados ou no meio do metrô lotado, a imaginação pode transformar a rotina em risos, o chefe em um Muppet ou um campo de batalha em um reino encantado.

Por mais que várias pessoas possam fazer o seu papel, a imaginação permite a criação de um mundo só seu.

E isso é bem real.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

[Crônica] Comentários durante o filme

Ele acorda, tropeça no chinelo (falei que esse filme era comédia), vai escovar os dentes, aperta o tubo de pasta que já tá dobrada até o final (nossa, faço isso sempre lá em casa), toma café e vai pro trabalho (adoro essa música do U2 da trilha sonora).

Ela reclama do trânsito (que filme ela fez mesmo?), olha o Facebook no celular, sem notificações, buzinas, ele xinga o motorista de trás (tava demorando pra ter palavrão).

Ele chega no trabalho, ela também, pega o elevador, ela fica ao seu lado, (nossa, lembrei, ela fez aquele filme do navio), ele olha pro decote dela e derruba a papelada, ela ajuda a pegar (que filme clichê,  amor.  Falei pra gente ver Transformers), ele olha nos olhos castanhos dela, ela sorri e mostra as covinhas, ele dá risada e o clima de amor acaba logo.

Um terrorista entra no elevador, fala que tem um bomba, eles ficam nervosos, acaba a energia, o elevador para, ela começa a chorar, o terrorista fala que é a bomba é de mentira e que tem medo de escuro, o terrorista abraça ele (cara, onde esse filme vai chegar?).

A polícia antiterrorismo chega, terrorismo no país da Copa não, o farsante se entrega, ele comenta com ela que história engraçada, podemos contar pros nossos filhos, ela diz que filhos nos conhecemos faz 3 minutos, ele diz, mas poderíamos morrer, ela diz você não viu que era de mentira, ela desce no trigésimo segundo andar e passa por uma propaganda da Claro (filme brasileiro sempre tem que ter propaganda).

Final do expediente, ele entra no elevador, ela também, entra outro terrorista, ele fala que tem uma bomba, ele fala que já ouviu essa história antes, ele dá um soco nele, ele cai, a bomba explode (caraca, eles morreram?), muita fumaça, a fumaça se dissipa, todos estão bem, tem um campo de força ao redor (quanta maconha esse diretor fumou?), ela tem poderes, (nossa, filme brasileiro com efeitos especiais?), ela fala pra não contar pra ninguém.

Ele vai pra casa, ela é sua vizinha agora, ele entregar flores de agradecimento, (por que você não me entrega flores?), (Shhh presta atenção), ela diz que sempre reparou nele no trabalho, ele diz que nunca viu e ela fecha a porta.

No dia seguinte um portal alienígena se abre no meio da cidade e começa uma invasão, (viu amor, você não queria ver Transformers?), muitas mortes, quase que ele morre, ela o salva, ela salva a cidade com seus poderes mutantes.

Ela ganha a chave da cidade, o vilão se livra das algemas, rouba a arma do policial, o vilão atira, bala em câmera lenta (ela NÃO PODE morrer!), ele se joga na frente dela, parece que a bala o atingiu (você se jogaria por mim, amor?), (Silêncio mulher, melhor parte!), ela diz que não é possível, ele diz que só está retribuindo o favor e sendo gentil, ela diz que o ama, ele diz mas nos conhecemos na semana passada, ela ri, eles se beijam.

Os cidadãos aplaudem, câmera sobe para o horizonte, aparece um último alienígena, ele dá uma risadinha e escreve continua, (a gente precisa assistir a continuação!), créditos (calma, a Marvel me ensinou a esperar o último nome), não acontece nada.